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2005-11-28
Os dias são mais quentes, e as noites, menos agradáveis do que antigamente. A população de Porto Alegre percebe que o clima vem mudando nos últimos anos, mas muitos não sabem explicar o porquê. O fato, porém, não é restrito à capital gaúcha. A cidade sofre, como o resto do mundo, os efeitos do efeito estufa, intensificado pelo lançamento na atmosfera de carbono e dióxido de carbono, além de vapor dágua, devido à evaporação das águas oceânicas.

Agrometeorologista da Embrapa de Passo Fundo, Gilberto Cunha lembra que o efeito estufa, naturalmente, não é tão vilão assim. – O efeito estufa, na realidade, é benéfico, pois impede que o planeta resfrie demais durante a noite. O problema é que a emissão de gases poluentes está tornando a Terra quente demais-, frisa o especialista.

De acordo com o professor do Instituto de Geografia da UFRGS, Paulo Livi, são as temperaturas mínimas, e não as máximas ou as médias, que vem subindo gradativamente desde a década de 1950. – Por isso se tem a sensação de que os invernos não são mais rigorosos. É claro, sempre faz um ou dois dias realmente frios nesse período, mas até mesmo os períodos de geada ficaram menores-, afirma.

A elevação das mínimas, segundo o professor, é provocada pelo aumento da nebulosidade e diminuição da insolação, essa última em 25%. O calor, assim, ficaria retido entre as nuvens, que funcionam como um cobertor . O meteorologista do CPPMet (Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas) da UFPEL (Universidade Federal de Pelotas), Julio Marques confirma que o aumento das temperaturas mínimas é percebido especialmente à noite, quando a sensação térmica deveria ser de uma temperatura mais fresca. – Esses efeitos são notados de uma forma lenta, mas intensa, com tempestades cada vez mais fortes e estiagens mais severas-, acrescenta.

As médias das temperaturas em Porto Alegre, porém, precisam ser relativizadas. – Dentro do território analisado, estão locais como o Parque da Redenção e o Jardim Botânico. Provavelmente, se fizéssemos essa pesquisa somente no centro da capital, teríamos um resultado bem diferente-, revela o professor da UFRGS.

Marques destaca ainda que as mudanças climáticas em cidades industrializadas como Porto Alegre também se devem a alterações microambientais, como a redução de áreas verdes e o aumento da urbanização. – Os fatores naturais também contam, mas quem mais contribui para as mudanças climáticas são os antropogênicos [ações causadas pelo homem]-, ressalta.

Efeitos na saúde
Os seres humanos sentem de forma intensa os impactos dessas alterações climáticas. Em épocas de mudanças de temperatura, as doenças respiratórias são as que mais se manifestam.

– Quem mais sofre são os alérgicos, sem dúvida-, afirma a coordenadora da Área de Pneumologia da Secretaria da Saúde de Porto Alegre, Elaine Ceccon. A médica afirma que quando a temperatura sofre uma queda brusca, os brônquios de quem sofre de asma e de rinite, especialmente, inflamam-se com o ar frio que penetra nos pulmões. A conseqüência é uma contratura dos músculos dos brônquios, que pode levar à crises respiratórias.

A população não-alérgica, porém, também sente esses efeitos, principalmente quem está submetido ao ar-condicionado. – A troca de ambientes, tanto do frio para o quente como vice-versa, causam nas pessoas que não sofrem alergia o mesmo efeito que causariam para um asmático-, explica. – Como o ar fica mais enxuto , a mucosa seca, e isso acarreta espirros, secreção nasal e tosse, sintomas que, muitas vezes, se confunde com resfriados-, completa.

Elaine classifica que o maior problema encontra-se na síndrome do prédio doente . A expressão refere-se aos prédios que tem um ar-condicionado central e não permitem a circulação de ar. O resultado é a proliferação de germes. – Por isso, muitas vezes, há várias pessoas em um mesmo lugar que ficam doentes em épocas próximas-, afirma a especialista, alertando para a necessidade de uma reciclagem do ar. Uma das soluções pode ser a limpeza dos filtros, ou simplesmente abrir as janelas em alguns momentos do dia.

Além dos males respiratórios, o aumento das chuvas também traz seus riscos à saúde. As enchentes colaboram para a transmissão de doenças orais-fecais. De acordo com a médica veterinária da Secretaria Municipal da Saúde Sônia Thiesen, os alagamentos favorecem o aparecimento de casos de leptospirose, cuja bactéria causadora, a Leptospira interrogans , está presente na urina de alguns roedores. Já a transmissão da hepatite A, nessas circunstâncias, decorre da ingestão de alimentos e de água contaminados pelo vírus HAV (Vírus da Hepatite A).

Agricultura sente o aquecimento
Os impactos do aquecimento também são sentidos de forma intensa na agricultura. O agrometeorologista da Fepagro, Ronaldo Matzenauer entende que as alterações climáticas afetam o desenvolvimento e o crescimento das culturas. Na opinião do técnico, tanto as culturas de inverno como as típicas de verão são afetadas. – Cada planta tem um tempo para se desenvolver e florescer. Com essas mudanças, as duas ficam prejudicadas. No verão, por exemplo, o consumo de água das plantas é maior, da mesma forma como acontece com o ser humano. Isso acaba fazendo com que a transpiração aumente e afete o solo da região-, assegura.

Cunha afirma que o aquecimento pode afetar a agricultura também na proliferação de pragas, como ervas daninhas, e doenças nas lavouras em função da umidade e do calor. O agrometeorologista, porém, salienta que os efeitos sobre cada espécie dependem da variabilidade a que são submetidas. As mais prejudicadas são as chamadas fruteiras de clima temperado, como as macieiras, e os cereais de inverno – trigo e cevada –, suscetíveis à umidade e a vários fungos. O arroz também entra na lista dos prejudicados, já que precisa de muita irradiação solar e se depara com uma crescente nebulosidade.

O especialista, no entanto, relembra que efeitos mais evidentes sobre a produção agrícola só poderão ser percebidos no futuro. – Por enquanto, não se pode fazer maiores prognósticos, mas a pesquisa científica ligada à agricultura trabalha no sentido de desenvolver tecnologias que resistam a esses problemas-, ressaltou. Nesse sentido, Matzenauer também aponta que é necessário intensificar as pesquisas. – Para que a produção não sofra tanto, é preciso fazer estudos de zoneamento-, conclui.
Por Patrícia Benvenuti

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