Destruição ambiental compromete agricultura
2005-11-25
A despreocupação de muitos agricultores com a preservação dos recursos naturais tem contribuído para a redução da produção agrícola. O alerta vem do Paraná, o maior produtor de grãos do Brasil. Neste ano, o estado colheu 23% menos do que em 2004 e as perspectivas do governo são de perdas ainda maiores na próxima safra. Para o secretário de Meio Ambiente do Paraná, Luiz Eduardo Cheida, a redução da safra está ligada a um modelo agrícola que não leva em conta a preservação do solo e dos rios. Ontem, na abertura do Fórum Internacional Diálogos da Bacia do Prata, Cheida apresentou suas preocupações e teve o apoio da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, quanto a necessidade de se criar modelos agrícolas engajados com a preservação ambiental.
A equação dos prejuízos para a agricultura de um modelo de produção que devasta o meio ambiente é simples. Com o corte das matas ciliares, fundamentais para a preservação do leito dos rios, existe uma perda considerável do solo utilizado nas lavouras, arrastado para as águas por conta do forte assoreamento. Apenas um dos rios paranaenses, o Ivaí, chega a levar 2 milhões de toneladas de solo por ano para dentro do seu leito. O assoreamento já fez com que dois ribeirões paranaenses, o Paracatu e o Marumbizinho, secassem nos últimos quatro meses. Mas os prejuízos não param por aí.
O sistema agropecuário consome muita água durante a produção. Os cálculos do governo federal apontam que, para cada quilo de trigo, o agricultor utiliza 1,5 mil litros de água doce na irrigação. Na produção de carne de frango, a relação sobe para 2 mil litros para cada quilo.
— Isso significa, em números grosseiros, que são consumidos entre 850 e 900 bilhões de litros de água para uma safra de 25 milhões de toneladas de grãos como a do Paraná - afirma o secretário.
Para a ministra Marina Silva, a conclusão do Plano Nacional de Recursos Hídricos, prevista para o fim do ano, deverá colaborar na mudança do sistema de produção agropecuário brasileiro e, principalmente, nos projetos de infra-estrutura, que não tem levado em conta os impactos ambientais.
— É preciso estabelecer limites. Tem muita gente que não gosta de ouvir essa palavra, mas todos têm de entender que a natureza tem a sua capacidade de suporte - afirma a ministra. Com o plano, o governo poderá passar a cobrar pelo uso da água, o que deve reduzir o desperdício e a quantidade de agrotóxicos jogados nos rios.
O Paraná já está pronto para iniciar a cobrança dentro do plano estadual de recursos hídricos. A maior parte dos recursos que virão da taxa, 92,5%, deverá ser investido na revitalização das bacias hidrográficas. (Correio Braziliense, 24/11)