Físico vê biocombustível como saída para o mundo
2005-11-24
O Brasil deve investir na pesquisa de biocombustíveis porque o petróleo acabará até o fim do século 21, disse o físico Alan MacDiarmid, Prêmio Nobel de Química de 2000 em Brasília, durante a 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, na semana passada (17/11). — O mundo está exaurindo a energia. Haverá um momento em que o petróleo, o carvão e o gás se acabarão-, disse o pesquisador.
Ele defendeu ainda o biodiesel e o álcool como uma tecnologia limpa. É que a queima de combustíveis fósseis resulta na emissão de dióxico de carbono, um dos gases do efeito estufa, relacionado ao aquecimento global.
A energia é considerada pelo físico como um dos dez problemas do mundo nos próximos 50 anos. Os outros estão relacionados à água, alimento, meio ambiente, pobreza, terrorismo e guerra, doenças, educação, democracia e densidade populacional.
Em 2003, cita o pesquisador, tínhamos 6,3 milhões de habitantes no mundo. — Em 2050 serão 10 bilhões e não haverá alimento para todos. Mas, se tivermos energia e água esse problema não existirá -,prevê. Ele propõe o uso da agricultura não só para a produção de alimento, mas também para a de biocombustíveis.
— O futuro do mundo depende do fornecimento de energias renováveis-,afirma. Ele acrescenta que investimentos em biodiesel e álcool eliminarão a dependência do petróleo. Além disso, garante, é rentável para a agricultura e reduz os problemas do efeito estufa. — Antes a humanidade caçava animais para comer e depois passou a criar bichos. Estamos cavando a terra para buscar petróleo, mas devemos é plantar-, recomenda.
Ele citou o Proálcool, de 1975, como um exemplo de sucesso. — O programa colocou o Brasil à frente dos outros países, mas, se não houver investimento, nos próximos dois ou três anos outras nações serão as primeiras.
O físico disse que o Departamento de Energia dos EUA tem recomendado fortemente investimentos junto à comunidade científica no campo da pesquisa com biocombustíveis. O documento, exibido por MacDiarmid, diz que se deve pesquisar de tudo, de grama a árvores, para a produção de combustível biológico.
Para o Brasil, ele recomenda o estudo do bagaço de cana, da canola, do babaçu, do amendoim, do algodão, da soja e da mamona, entre nove fontes de biocombustível. MacDiarmid lembra que o processamento da soja resulta em 10% de óleo. — Os 90% restantes podem ser transformados em álcool, resultando no aproveitamento de 100% do grão. O cientista defendeu ainda a ciência pura. — As pesquisas básicas de hoje são a tecnologia de amanhã.”
Ele citou a indústria Dupont como um exemplo disso. Segundo MacDiarmid, a empresa estima que um terço da sua receita é proveniente de produtos com até cinco anos de vida. — Ou seja, em 2010 e 2015, a Dupont lucrará com as coisas que ainda não foram descobertas hoje. (JC/PE, 18/11/2005)