Agência Espacial Européia prevê perda de recursos florestais em Portugal
2005-11-24
A Agência Espacial Européia (ESA) prevê para os próximos anos uma perda de produtividade dos recursos florestais no sul e no interior de Portugal, segundo o projeto de desertificação DesertWatch, apresentado na terça-feira (22/11), durante seminário, em Lisboa.
–Para os próximos anos não há cenários catastróficos. O cenário é tendencial e haverá uma perda de produtividade de biomassa em áreas de risco de desertificação do sul e do interior do país–, disse Lúcio do Rosário, o único português envolvido no projeto. –Há de fato, aí, uma perda global de produção, que não sabemos se vai ou não acentuar-se–, acrescentou.
O Desertwatch é um projecto em desenvolvimento na ESA que pretende fazer uma avaliação da ocupação do solo na região mediterrânea nos últimos 30 anos e traçar cenários até 2034. Este sistema de acompanhamento de desertificação da região mediterrânea vai ser instalado na Direção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano, no âmbito do Plano Nacional de Políticas de Ordenamento do Território.
De acordo com Lúcio do Rosário, os incêndios e a seca em Portugal refletem uma grande tendência de alteração de produção dos recursos florestais e agrícolas. –Nos últimos 20 ou 30 anos assistiu-se a uma transferência da produção de biomassa de sul para norte. Há menos biomassa neste momento à volta do Mediterrâneo, designadamente em Portugal e em Espanha, do que havia anteriormente–, explicou.
O especialista português adiantou que o projeto permite também concluir que há –uma ocupação em áreas urbanas concentradas ou difusas ao longo das grandes vias de acesso existentes ou projetadas–. Lúcio do Rosário disse ainda que em Portugal assiste-se à reconversão de áreas florestais pelo uso agrícola e à transformação de áreas naturais.
O presidente da Comissão Nacional de Desertificação, Vítor Louro, também presente no seminário, disse que os incêndios florestais e o urbanismo são os fatores que mais contribuíram em Portugal para –a degradação definitiva– do solo. No entanto, o mesmo responsável adiantou que o urbanismo é o fator que mais pesa devido à sua ocupação irreversível. De acordo com Vítor Louro, a agricultura e a desertificação humana também contribuem para a degradação dos solos.
–Regar em toda a parte e a intensificação da pecuária - colocar pouco gado em pouco espaço -, são dois dos motivos fundamentais para a degradação da terra–, sublinhou. (Ecosfera, 22/11)