Saúde urbana
2005-11-23
A relação que existe entre o excessivo crescimento das cidades e a piora na
qualidade de vida acarretada por essas mudanças é a chama de uma discussão
permanente entre ambientalistas brasileiros que, desde meados da década de 90,
se dedicam a questionar os efeitos da urbanização. Depois de muitos anos de
encontros e debates, eles acreditam ter dado mais um passo nesta luta.
A Conferência Internacional Metrópoles Saudáveis, realizada em São Paulo na
última semana, teve como objetivo traçar estratégias para conquistar a chamada
saúde urbana para os grandes centros.
Durante o evento foram discutidos sistemas de gestão ambiental apropriados para
diferentes cidades, baseados em experiências bem-sucedidas. – É difícil que uma
cidade cresça demais e, ao mesmo tempo, continue sendo saudável. Não estamos
aqui para sermos utópicos, mas para discutir indicadores e escalas que
possibilitem os melhores resultados-, ressalta o presidente do Instituto
Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy.
Segundo ele, o Proam é uma organização pioneira no debate de questões
relacionadas à qualidade de vida em grandes centros. Ao criar o Programa
Metrópoles Saudáveis, que vem sendo articulado desde 2003, o órgão se dispôs a
traçar indicadores de saúde urbana e trazer à tona assuntos de desenvolvimento
sustentável. Bocuhy, apesar de não priorizar alguns indicadores em detrimento de
outros, lista itens imprescindíveis para o bom funcionamento de megacidades. –
Água suficiente para a sobrevivência da população, níveis moderados de poluição
atmosférica, uso adequado e qualidade dos solos, áreas verdes para evitar as
ilhas de calor e controle da violência urbana.-
Bocuhy ressalta que, cada vez mais, a saúde urbana tem de ser discutida, porque
as metrópoles estão constantemente em processo de crescimento. – Nos anos 50,
apenas uma cidade no mundo [Nova York] tinha mais de 5 milhões de habitantes. A
expectativa é que, em 2015, existam 37 com mais de 10 milhões de habitantes-,
conta, referindo-se aos dados de uma pesquisa realizada pela revista National
Geografic em 2002, com base em informações da Organização das Nações Unidas
(ONU). – Isto é mais do que suficiente para darmos atenção à questão da
qualidade de vida em grandes centros-.
Desde a implementação do programa, o Metrópoles Saudáveis foi dividido em duas
fases. A primeira contou com o levantamento de dados baseados na opinião de
cerca de cem cientistas de diversas áreas. – A consulta foi feita durante as
outras edições da conferência, em Buenos Aires e São Paulo. Ouvimos uma
variedade de especialistas, para obter uma visão multidisciplinar da questão-,
destaca o presidente do Proam. Durante a segunda etapa, será elaborado um Termo
de Referência para Metrópoles Saudáveis por uma equipe multidisciplinar.
As conclusões do estudo deverão apontar para políticas de prevenção e correção,
necessárias para a reversão do quadro que caótico que vem sendo instalado nas
grandes cidades. – Nosso deadline é agosto do ano que vem. Até lá, esperamos
fechar o relatório e entregá-lo para nossos parceiros-, afirma Bocuhy, lembrando
que o documento será encaminhado para a Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS/OMS), Programa das Nações Unidas para o Meio-Ambiente (PNUMA), Organização
dos Estados Americanos (OEA) e UNESCO. Durante o seminário, cidades estrangeiras
e brasileiras apresentaram experiências de sucesso. – A questão é transnacional-.
(Aline Ribeiro, O Eco, 19/11)