ONU vê risco para metas do tratado de Kyoto
2005-11-22
As emissões de gases estufa devem aumentar nos próximos anos, depois de um período de diminuição relacionado sobretudo ao colapso das indústrias poluentes da antiga União Soviética, diz a ONU.
As emissões de gases, apontadas pelos cientistas como responsáveis pelo aquecimento global, diminuíram 5,9% em 2003 em relação a 1990, levando-se em conta os 40 países mais ricos, incluindo os ex-comunistas. Esse resultado bate a meta de corte de 5,2% prevista pelo Acordo de Kyoto para o período de 2008 a 2012.
Mas a ONU prevê que as emissões podem chegar em 2010 a um patamar 10,6% maior do que o dos anos 90.
— Mais esforços têm de ser feitos para sustentar essas reduções e cortar ainda mais as emissões - adverte a ONU.
Segundo a organização, a maioria da diminuição das emissões adveio do fechamento, no início dos anos 90, de indústrias poluentes na antiga União Soviética e na Europa Oriental.
As maiores diminuições foram constatadas nos países bálticos, enquanto países como Espanha e Portugal ficaram em 2003 muito aquém das metas.
— As projeções indicam que a emissão de gases estufa pode aumentar até 2010. Isso significa que garantir a redução sustentada e mais profunda das emissões continua sendo um desafio para os países em desenvolvimento - disse Richard Kinley, diretor do Secretariado da ONU para o acordo.
Um encontro no final do mês, no Canadá, vai começar a discutir maneiras de estender o acordo para depois de 2012 e de incluir países que não participam dele, como os EUA, que se retiraram, e Índia e China, que foram excluídos das metas por estarem em fase de desenvolvimento.
O presidente americano, George W. Bush, tirou o país do acordo em 2001 dizendo que ele poderia prejudicar a economia de seu país e que era errado criar exceções para China e Índia.
China e Índia dão sinais de que não podem se comprometer com metas de diminuição de emissão, pois têm problemas de escassez de energia em economias que crescem rapidamente.
— Não dá para as pessoas esperarem que países como a Índia diminuam suas emissões nos próximos 20 ou 25 anos - disse S.K. Joshi, do Ministério do Meio Ambiente. — Damos as boas-vindas às negociações entre as partes para um segundo período de comprometimento com metas de diminuição. Mas os países que aderiram ao acordo ainda têm de demonstrar progressos.
A China, que tem 20 das 30 cidades mais poluídas do mundo e só perde em emissão de gases estufa para os EUA, já divulgou seu plano qüinqüenal de crescimento, no qual não contempla diminuição nas emissões. (Valor Online, 18/11)