Consumo de água requer cuidados
disruptores endócrinos
2005-11-21
Toda criança aprende na escola que água contaminada pode transmitir
doenças,
como hepatite, cólera, esquistossomose. Mas novos estudos científicos
sugerem
que a crescente poluição dos recursos hídricos oferece riscos mais
graves para a
saúde humana, favorecendo a incidência de câncer e de infertilidade.
A ameaça seria potencializada por substâncias químicas lançadas nos
esgotos, que
por sua vez acabam depositados nos rios. Não se trata apenas de
agrotóxicos, mas
também de substâncias aparentemente inofensivas, como resíduos de
produtos
utilizados na higiene pessoal e na lavagem de louças.
Segundo a engenheira química e consultora ambiental Gleby Aparecida de
Almeida,
do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), há
substâncias
capazes de interferir no metabolismo humano, os disruptores hormonais.
Dos 80
mil produtos químicos rotulados, pelo menos 67 foram identificadas como
disruptores, com possíveis efeitos cancerígenos e tóxicos.
O mais preocupante, para a engenheira química Sonia Hess, coordenadora
do curso
de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
(UFMS), é
que essas substâncias não são totalmente eliminadas no tratamento da
água. A
professora investiga causas ambientais da leucemia infantil. A hipótese
é de que
a presença de agrotóxicos aumente a predisposição à doença.
- As estações de tratamento de água não têm como retirar tantos
produtos-,
alerta.
Testes em animais realizados na Inglaterra apontaram a feminilização de
peixes e
o hermafroditismo, por causa da contaminação de águas por substâncias
presentes
em detergentes, pesticidas e embalagens plásticas. Para o economista
político
Ladislau Dowbor, professor da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo
(PUCSP) e consultor da Organização das Nações Unidas (ONU), o desafio é
comprovar os efeitos.
- A gente só descobre o impacto de muitos produtos fármacos na geração
seguinte.
Isso está gerando a explosão de câncer no planeta-, acredita Ladislau.
O arquiteto urbanista Renato Tagnin, professor do Centro Universitário
Senac/SP
(Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial de São Paulo), salienta que
as
pessoas precisam estar alertas e fiscalizar governos e iniciativa
privada. A
precaução é tida como a melhor receita.
- Esse problema nos coloca algumas questões. Em relação à água, quantos
riscos
você aceita correr? Quantos anos de vida você aceita perder?-
(clicrbs, 18/11)