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2005-11-21
No último dia de Seminário sobre Agroecologia, realizado na Assembléia Legislativa, em Porto Alegre, painelistas reforçam necessidade de empoderamento da sociedade na mudança da realidade

Comunicação como ferramenta de empoderamento foi o tema do último dia do VII Seminário Estadual e do VI Seminário Internacional sobre Agroecologia, realizado na Assembléia Legislativa em Porto Alegre. Durante a manhã (18/11), foram abordados temas como a importância do saber local, educação ambiental, discursos e estratégias de propaganda e sobre informação e cidadania.

À tarde, um grande público lotou o auditório Dante Barone para a última palestra dos Seminários, que teve como tema Ética, ecologia e cidadania , abordado pelo filósofo, antropólogo, jornalista e teólogo, Frei Betto. Apesar da síndrome da maximização do lucro e da crise de valores pelos quais a sociedade vive, para Frei Betto é preciso a tomada de consciência do poder das inter-relações entre os movimentos sociais. – Não basta reivindicar. A sociedade civil organizada deve propor políticas públicas que garantam a apropriação equilibrada e harmoniosa dos recursos-, afirmou Frei Betto.

O palestrante defendeu o mínimo de dignidade humana, a partir do planejamento familiar, de forma a evitar o constante aumento da população. Frei Betto destacou a fome como um dos maiores problemas do Brasil. – O Brasil possui a maior reserva de terras agricultáveis, sendo um dos maiores produtores de grãos do mundo, mas, de forma contraditória, é o mais desigual e injusto do planeta-, afirmou Frei Betto, ao lembrar que ainda há pessoas que morrem de fome. – Vivemos com a idéia de que exportar é a solução e não atendemos ao mercado interno, pois não há política para isso-, completou, ao destacar que a fome mata mais do que a soma de mortes por acidentes, doenças e violência.

Para ele, ainda não sabemos lidar com a democracia. – Temos liberdades e direitos virtuais, pois a democracia, que deveria emanar do povo, não é participativa-, analisou. O problema ecológico e o problema das condições de vida da sociedade estão ligados à ética e ao mínimo de dignidade, completou Frei Betto. Educação e Informação
O professor de comunicação da Universidade Nacional de Rio Cuarto, da Argenteina, Gustavo Ramón Cimadevilla, falou sobre comunicação e meio ambiente: quando a informação não basta, o saber local é a diferença. Para ele, o local é uma oportunidade de ação coletiva. Além disso, para comunicar de forma sustentável é preciso desenvolver condições de virtualidade, de percepção do risco, trabalhar o paradoxo coletivo e entender a diferença entre o que se imagina e o que as pessoas vivem no cotidiano. – Este é o desafio dos comunicadores-, diz Cimadevilla, ao defender a ação concreta e não apenas do discurso de sustentabilidade que muitas instituições utilizam e se apoderam. – A comunicação que podemos confiar é a que se apoia no concreto e não na promessa-.

A experiência de educação ambiental desenvolvida pela Emater do Pará também foi destaque durante o Seminário sobre Agroecologia. A engenheira agrônoma da Emater/Pará, Gilberta Carneiro Souto, falou sobre o processo de reestruturação da instituição e expôs as dificuldades enfrentadas pela Instituição na abrangência do extenso território do Pará e de dificuldades como o fato de 92% dos solos da Amazônia serem de origem pobre. Isso sem contar os desmatamentos, a incidência de queimadas e a intensa atividade pluviométrica, que contribui para o empobrecimento do solo.

Gilberta Souto mostrou tópicos do Programa de Capacitação em Agroecologia adotado pela Emater do Pará, que objetiva construir, de forma participativa, conhecimentos que levem os agricultores familiares e técnicos a contribuírem para o manejo e a conservação dos ecossistemas. Cidadania e Ética
A professora de Jornalismo Ambiental e doutora em Comunicação, Ilza Girardi, palestrou sobre as estratégias discursivas da propaganda para assujeitar o agricultor ecologista ao discurso produtivista. Através de recortes, ela recuperou o apelo utilizado por multinacionais, no período da chamada Revolução Verde, que convence aos agricultores à adoção de práticas nocivas na produção de alimentos .

Para Girardi, outros argumentos utilizados há mais de 40 anos na disseminação global da Biotecnologia são os mesmos de hoje. – O discurso continua sendo o de aumentar a produtividade e acabar com a fome do mundo, mas sabemos que esses motivos são políticos e de mercado-, analisa a professora. Para ela, é preciso incorporar a consciência de cidadania que contribua com o empoderameno das comunidades.

Para o jornalista Marcelo Canellas, que falou sobre Informação e cidadania , a ética é a primeira questão a ser discutida no Jornalismo que é a arte de raspar o verniz das aparências . Como as notícias, fatos ou fenômenos aparecem de forma complexa, é preciso fazer uma leitura da realidade, a partir do conhecimento que se tem do contexto. – Não é papel do jornalista mudar a sociedade. O jornalista serve para abrir os olhos e acender uma luz para o que está acontecendo, mas o papel de mudar essa realidade é de toda a sociedade-, finaliza Canellas. (Emater, 18/11)

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