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2005-11-18
Pesquisadores da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e da OMS (Organização Mundial da Saúde), traçaram o primeiro esboço abrangente dos efeitos que o aquecimento global poderá ter sobre a saúde humana --e o quadro que emergiu não é nada bonito. Segundo eles, 5 milhões de casos das mais variadas doenças já são causados pelo problema, e o risco de moléstias relacionadas a ele pode dobrar por volta de 2030.

A equipe coordenada por Jonathan Patz, de Wisconsin, está lançando seu alerta na edição de 17/11 da revista científica Nature (www.nature.com). Embora ressaltem que há enorme incerteza nas tentativas de prever um sistema tão complexo quanto o clima da Terra, os pesquisadores deixam claro que os riscos são reais.

Pior: as projeções sugerem que os mais prejudicados serão justamente os países mais pobres do planeta, que contribuíram menos para a enrascada climática na qual a humanidade mergulhou (já que usam menos combustíveis fósseis, a principal fonte dos gases que esquentam o planeta) e que têm menos condições financeiras para lidar com o aumento de doenças.

— Trata-se de um enorme desafio ético global - disse Patz em comunicado oficial.

O que os pesquisadores fizeram foi integrar uma enormidade de dados dispersos que já ligam o aquecimento global a problemas de saúde. Durante o século 20, a temperatura média da Terra subiu 0,7C. Estima-se que, nos últimos 30 anos, esse aumento modesto já tenha desencadeado 150 mil mortes adicionais por ano.

A primeira contribuição do aquecimento nessa contabilidade parece ser a das próprias variações extremas de temperatura, que, segundo os climatologistas, devem aumentar mais e mais conforme o planeta sai de seu estado de equilíbrio. O verão de 2003 na Europa, por exemplo, foi o mais quente dos últimos 500 anos e matou entre 22 mil e 45 mil pessoas. Em todas as grandes cidades, o aquecimento também deve exacerbar o problema das ilhas de calor, no qual prédios e asfalto retêm muito mais radiação térmica que áreas não-urbanas.

A variabilidade climática também pode significar fome, já que as colheitas estão mais vulneráveis ao calor ou ao frio extremos. E a fome deixa o organismo humano mais vulnerável a parasitas de todos os tipos, que podem prosperar num planeta mais quente. Os dados sugerem que doenças como malária, cólera e dengue teriam condições mais favoráveis para se expandir num planeta mais quente, em parte porque os insetos que as carregam (caso da malária e da dengue) teriam mais facilidade para se reproduzir.

O impacto desses problemas deve ser sentido principalmente na África e nas regiões tropicais banhadas pelos oceanos Pacífico e Índico, bem como, em menor escala, na América Latina. Grandes metrópoles de urbanização desordenada também correm grandes riscos. (Folha Online, 17/11)

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