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2005-11-18
É preciso levar em conta não apenas as experiências positivas de sustentabilidade econômica, mas também as que se mostraram insustentáveis no mundo. Com esse pensamento, a ativista uruguaia Ana Filippini, do WRM - Movimento Mundial pelas Florestas, apresentou o painel A experiência internacional no cultivo de árvores: uma receita para a insustentabilidade, no segundo dia do VII Seminário Estadual e VI Internacional sobre Agroecologia, realizado ontem (17/11) em Porto Alegre.

— Com base em muitas mentiras, as grandes fábricas de celulose iludem pessoas no mundo inteiro, que acreditam nos benefícios dessas plantações-, assegura. A propaganda enganosa , segundo a ativista, seria feita por meio de promessas como a fertilização da terra, prevenção de erosão e inundações e recuperação do meio ambiente. — Os espertos misturam tudo e dizem que os benefícios de ter uma plantação são os mesmos que se teria com uma floresta-, critica Ana.

A situação, segundo a ambientalista, é bem diferente. Para o plantio de pinus e eucaliptos, por exemplo, haveria um agravamento da situação do solo, pois ele tem que ficar um tempo destapado . — Durante esse período, dá-se o processo erosivo e a conseqüente perda de nutrientes da terra. Em muitos casos, torna-se impossível reutilizar esse espaço para agricultura.

Dessa forma, torna-se falso o argumento de que essas florestas ajudam a recuperar o solo. O motivo, para a palestrante, é simples: as plantas, nesse lugar, não crescem da maneira esperada, e isso não é rentável. — O objetivo das fábricas é gerar lucros para os acionistas, e não empregos ou recuperação da natureza-, declarou.

No entanto, o maior alerta foi para a publicidade feita no convencimento não apenas à população, mas também aos órgãos públicos. — Eles usam o pretexto de que um bom manejo pode acabar com eventuais problemas. Mas a questão não é técnica, é política. As necessidades e as aspirações locais não contam para elas [empresas]. Esse bom manejo, assim, consistiria em convencer o governo a aceitar suas políticas e fornecer subsídios, ao mesmo tempo em que teria que reprimir todos os protestos que viessem a ocorrer -, analisou.

Ana Filipini, que também esteve presente no I Seminário Os impactos da expansão das áreas com monoculturas de árvores no RS , promovido pelo Núcleo Amigos da Terra no mês passado, criticou ainda a disseminação da idéia de que, com a monocultura, as florestas nativas não seriam mais vítimas da extração. — Isso é falso porque, em muitos casos, elimina-se o que há no território local através de queimadas ou da venda de madeira, o que acaba financiando o negócio-, acusou. Esse processo termina por conduzir os habitantes desse local a migrarem para outro e, ali, desmatarem por uma questão de sobrevivência.

Falta de papel é motivo fraco
A pior mentira de todas, na visão da ativista, é a de que a implantação de florestas de celulose é necessária em virtude do maior acesso da sociedade à informação, o que refletiria em uma melhor qualidade de vida. O argumento perde a razão quando se constata que os países do Hemisfério Sul, em geral, produzem celulose – o mais tóxico da produção – , e a maior parte do papel é consumido no Norte. — As fábricas alegam que a humanidade precisa de mais papel porque o padrão de vida melhorou, mas isso é um equívoco. Esse papel é usado para publicidade, tanto em jornais e revistas como em catálogos rapidamente descartáveis-, conclui.

Embora acredite que os casos não podem simplesmente ser jogados de uma região para outra, Ana entende como muito importante a troca de relatos para chegar-se a conclusões mais sólidas sobre a monocultura de árvores.

Situação crítica no Uruguai
Para ilustrar a situação causada pelas fábricas de papel, Ana relatou o que aconteceu no Uruguai, onde, hoje, se luta contra a instalação de novas plantas industriais. Ao contrário do que havia sido anunciado, houve uma forte queda nos níveis de emprego. As condições de vida pioraram em diversos âmbitos, conta, como saneamento, habitação, educação e saúde. As sementes de pinus atraíram para o campo uma espécie de rato que é devorado por cobras, o que deixou o país infestado por esses animais. — Investiu-se 415 milhões de dólares, e foi essa a situação com que os habitantes se depararam-, revelou.

Ana ainda estimulou o Rio Grande do Sul a criar órgãos como o WRM -Movimento Mundial pelas Florestas e a Rede Alerta Contra o Deserto Verde, do Espírito Santo. — É necessário que a região crie um movimento de defesa da água, do solo, do ar e, especialmente, do ser humano. (Por Patricia Benvenuti)

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