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2005-11-17
Na casa grande onde morou por 30 anos, com pátio cheio de árvores e bichos, a viúva do ambientalista Francisco Anselmo de Barros, Iracema Sampaio, recebeu ontem a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, com um almoço feito em panela de ferro. Marina foi dizer a Iracema que o governo está trabalhando para impedir a aprovação do projeto que autoriza a construção de usinas de álcool em áreas próximas do Pantanal, defendido pelo governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT. Ouviu da viúva que o ambientalista, conhecido como Francelmo, festejou quando ela foi indicada para o ministério e também que o marido fez o que achava necessário ao atear fogo ao próprio corpo em protesto, no sábado. Ele morreu no domingo.

— Ele não pensou na gente quando tomou essa decisão. Se pensasse, atrapalhava. Fez o que achava que devia fazer para salvar esse pedaço da casa de Deus - disse Iracema, de 67 anos, casada por 32 anos com ele e mãe de três filhos adotivos. Ainda abalada, ela tenta entender. Afirmou que ele também não pensou em si, mas numa causa maior, mais justa.

— A gente vai ter de aceitar.

Nas 16 cartas que deixou para família, amigos e imprensa, Francelmo mostrou que já sabia o impacto que sua atitude causaria - e poderia enterrar o projeto de construção das usinas.

Depois de admitir que a decisão não tinha sido fácil, deixou instruções para seu enterro.

— Faça o velório na capela 13, dá mais repercussão - disse na carta dirigida a Jorge Gonda, que, a seu pedido, deverá presidir a ONG fundada e presidida por ele, a Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul.

Na noite antes de morrer, Francelmo não dormiu. Iracema conta que ele a fez dormir com a cabeça em seu ombro. Hoje, ela sabe, era uma despedida. Naquele dia, brincou: — Acho que vem mais uma lua-de-mel por aí.

Em carta aos amigos, Francelmo explica que foi difícil tomar a decisão em sã consciência. Mas a defende: — Minha vida sempre foi um sacerdócio em defesa da natureza. Ela é a nossa casa e o presente maior de Deus. Se Ele deu a vida por nós, eu estou dando a vida por Ele, defendendo o futuro de nossos filhos. O mundo corre perigo e esta é a minha modesta contribuição - escreveu.

DESMATAMENTO
O Ministério do Meio Ambiente manifestou em nota, ontem, discordância com o relatório da ONU, divulgado anteontem, que aponta o Brasil como o campeão mundial em devastação de florestas nativas. A expectativa do ministério é de que haja, neste ano, queda de 40% no número de casos de desmatamento no País. (O Estado de S. Paulo, 16/11)

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