Em duas décadas, etanol será imbatível
2005-11-17
O futuro da energia no campo está na produção de biomassa, em razão, principalmente, da limitação das fontes atuais de matriz energética, baseadas em combustíveis fósseis, como petróleo e carvão. Paralelamente, dados oficiais mostram que, de 2000 a 2004, a cadeia produtiva canavieira cresceu em média 13,2% ao ano e, nos próximos cinco anos, o setor deve dobrar de tamanho, para suprir os mercados, nacional e internacional, de açúcar, álcool, energia elétrica e biodiesel. Nesse cenário, o Brasil desponta como líder mundial na agricultura de energia: enquanto a biomassa compõe apenas 1,7% da matriz energética do mundo, no Brasil ela representa 23%. Segundo o consultor Alfred Szwarc, da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), o campo terá duas possibilidades reais em termos de energia: etanol e biodiesel.
— O desafio será transformá-los em commodities energéticas.
O pesquisador Décio Luiz Gazzoni, da Embrapa Soja, prevê que, daqui a 50 anos, a biomassa seja a base da energia renovável. A importância da energia no futuro pode ser verificada, segundo Gazzoni, por sua demanda crescente e, aparentemente, infinita.
— A energia será um grande negócio, até mais poderoso do que o mercado de alimentos, porque sempre haverá uma nova forma de gastá-la - compara.
O recém-lançado Plano Nacional de Agroenergia, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que abrange etanol, biodiesel, florestas energéticas, biogás e energia gerada a partir de outros resíduos, também aponta para o esgotamento do petróleo.
— Em 2050, o preço do petróleo ficará exorbitante e sua produção será inviável - acredita Gazzoni, que lidera um projeto para o desenvolvimento de soja, girassol, mamona, dendê e canola para produção de biocombustíveis nos próximos quatro anos.
BIODIESEL
O biodiesel tem sido anunciado como o combustível do futuro. E será. Gazzoni avisa, porém, que a iniciativa privada levará um tempo para dar conta da demanda.
— O biodiesel é uma grande promessa, mas está em fase de gestação. Não temos nem produção comercial.
A partir de 2008, as empresas deverão utilizar um porcentual mínimo de 2% de biodiesel no óleo diesel comercializado; em 2012, a adição será de 5%.
Para o presidente do Comitê de Agroenergia e Biocombustíveis da Sociedade Rural Brasileira, Maurílio Biagi Filho, o que falta para o biodiesel deslanchar no País é, além de escala produtiva, que a produção se torne rentável.
— Para trilhar o caminho de sucesso do álcool deve-se resolver a questão de preços - disse. Quando o programa estiver plenamente ajustado, Biagi Filho acredita que a tendência será a integração entre usinas e lavouras de matéria-prima do produto. — A integração dessas duas atividades será muito interessante para o produtor.
O agrônomo Arno Dallmeyer, professor da Universidade Federal de Santa Maria, prevê que a consolidação do biodiesel no Brasil levará pelo menos dez anos, a exemplo do que ocorreu na Alemanha e na Áustria. O professor diz, ainda, que a indústria de máquinas agrícolas e de tratores terá que reavaliar a concepção dos motores, para que eles correspondam a esse novo combustível.
— Será vital refazer o projeto dos motores para ter eficiência na propriedade.
APOSTA
Enquanto o biodiesel não se firmar, a aposta é no álcool. O pesquisador Décio Luiz Gazzoni, da Embrapa Soja, garante que o etanol será imbatível porque o País já tem indústrias instaladas e tecnologia de ponta. Além disso, o balanço energético do etanol é muito favorável, de oito a dez para um. Esse balanço é o resultado do total da energia extraída dividida pela energia gasta para produzi-la. Outra vantagem é a capacidade de produção a partir da cana-de-açúcar.
— Da energia total da cana, um terço é álcool; o outro terço é bagaço; o terço final são ponteiros e palhada das folhas. Ou seja, pode-se produzir álcool tanto a partir do caldo da cana como do bagaço.
A previsão é a de que, em 2015, o Brasil produza 30 bilhões de litros de etanol. — Entre biodiesel e etanol, quem irá decidir serão as leis de mercado. (O Estado de S. Paulo, 16/11)