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2005-11-17
A eficiência do uso de dejetos suínos como fertilizante, embora comprovada, está enfrentando problemas. Sabe-se que a reutilização desses dejetos melhora as condições físicas, químicas e biológicas do solo, além de fornecer nutrientes essenciais às plantas. Entretanto, a grande quantidade que está sendo gerada pela atividade e, conseqüentemente, seu uso excessivo no solo, está causando sérios distúrbios - contaminação do ar, da água e do solo - no meio ambiente. Segundo o pesquisador Júlio César Pascale Palhares, da Embrapa Suínos e Aves, o problema não está no reuso de dejetos como adubo, mas na grande quantidade em que esses dejetos estão sendo aplicados.

— Em Santa Catarina, os solos não estão estão dando conta de absorver toda a quantidade de nutrientes que está sendo jogada no solo - diz.

O pesquisador explica que os impactos ambientais causados pela atividade estão relacionados aos nutrientes contidos nos dejetos dos animais, como nitrogênio, fósforo, potássio e zinco, e da forma como eles são liberados no meio ambiente.

— Esses dejetos liberam nutrientes e, dependendo da quantidade e da forma como ocorre essa liberação, pode haver riscos e danos ambientais – alerta. Palhares observa, ainda, que impacto zero não existe, mas o produtor pode tomar certos cuidados para diminuir significativamente esses riscos.

RISCOS
Na água, a presença exagerada de dejetos suínos pode causar a chamada eutrofização, que é o enriquecimento excessivo em nutrientes do meio aquático e sua conseqüente degradação. A quantidade de nitrato na água, por exemplo, deve obedecer ao critério determinado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que permite até 10 miligramas por litro de água.

— Acima disso, já é considerado prejudicial - diz o pesquisador. No ar, o perigo está na emissão de gases altamente poluentes e tóxicos, como metano, gás carbônico e amônia, durante o processo fermentativo dos dejetos. — Em algumas estações de tratamento é possível sentir o cheiro desses gases no ar - conta Palhares.

Além da água e do ar, o solo também sofre degradação com a presença em excesso de dejetos suínos. O que ocorre é que o solo, assim como a planta que está sendo cultivada, absorve a quantidade necessária de nutrientes. Se há fertilizante a mais no solo, essa absorção fica comprometida, pois o solo e a planta não agüentam.

— Esse adubo acaba sobrando - explica. O perigo dessa sobra que não é aproveitada pelo solo e pela planta é que pode atingir águas subterrâneas e contaminá-las.

TRATAMENTO
Para o pesquisador da Embrapa, uma das saídas para diminuir os riscos ambientais é fazer, em vez do reaproveitamento de dejetos como adubo, seu tratamento. Isso evitaria um volume excessivo de fertilizante no solo e reduziria o potencial poluidor. No entanto, 95% dos dejetos produzidos no País são utilizados para fertilizar culturas vegetais e apenas 5% são tratados.

— O reuso como fertilizante ainda é a prática mais comum, porém a pressão dos mercados consumidores deve aumentar e as barreiras ambientais devem se impor. A lei brasileira que trata do assunto, a exemplo de outros países, deve se tornar mais rigorosa.

Palhares afirma que a tecnologia para fazer o tratamento de dejetos suínos já está disponível, mas que é necessário, antes de instalar qualquer tipo de sistema, verificar o perfil da propriedade.

— Existem vários tipos de tecnologia, mas deve-se levar em conta uma série de fatores sobre a propriedade e sobre o sistema de produção - disse. O ideal, avalia, é que as tecnologias sejam adaptadas de acordo com a realidade do produtor. — Dessa forma é possível indicar o tratamento mais sustentável. (O Estado de S. Paulo, 16/11)

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