Diário dos Ventos: Sitiante está contente com usina eólica na vizinhança
2005-11-17
Ao se aposentar há três anos, Anildo Osio comprou um sítio de dois hectares no varjão à margem da Estrada do Retiro, vicinal que liga Osório a Palmares, no litoral norte do Rio Grande do Sul. — Quando entrei nesse ermo, o que mais tinha aqui eram quatro bichos: rato, cobra, perereca e escorpião-, diz ele, orgulhoso da ordem do local, das árvores plantadas, da terra preparada para plantar aipim e outros melhoramentos.
Abre os braços e mostra o que construiu nos últimos 4% de seus 70 anos bem vividos: uma casa de madeira, o galpão onde guarda as coisas (inclusive o carro), a antena parabólica no quintal e o celular para os recados dos amigos e dos sete filhos – todos encaminhados na vida. Está feliz e cheio de esperanças, achando até que acertou na decisão de vender a lancheria na praia e voltar às origens rurais - pois não é que o sítio deu uma boa valorizada nos últimos meses?
Estaria por acaso falando da usina eólica que estão construindo a um quilômetro do seu sítio?
Seu Anildo tapeia o boné empoeirado, coça a barba e exclama: — É bom pra nós-, e explica que agora a região vai ter um futuro melhor, com mais empregos para o pessoal... Sim, não tem queixas e garante: de todos os proprietários vizinhos, o único que não aceitou muito bem a chegada da usina dos ventos foi um fazendeiro, plantador de arroz e criador de gado, que vive mais para os fundos da estrada – seu Osio diz como se chega lá na morada do dissidente e chama D. Magda para falar aqui com a Erre Bê Esse.
Enquanto ela se aproxima meio sestrosa, o veterano osoriense logo deixa claro que forma (m) sua opinião a partir do que ouve (m) na rádio e na TV. Passa (m) a manhã sintonizados no Olho Vivo, programa de entrevistas e bate-papo da Rádio Osório AM, e ficam sabendo do que rola na cidade e na região (um dos eslôgan da emissora é: jornalismo informativo, opinativo e investigativo).
Esmiuçando um pouco mais o assunto, Seu Osio diz que o principal, por enquanto, é que arrumaram a estrada, referindo-se ao caminho de terra que passa em frente ao sítio. Ouviu dizer que não vão asfaltar porque é proibido botar piche na zona rural e mostra os valos abertos para o escoamento das águas paradas.
Reconhece que os caminhões levantam poeira e correm muito, chegando a suscitar uma campanha para evitar acidentes mais graves – na ânsia de faturar mais, alguns caçambeiros, carregadores de areia, brita e saibro, chegaram a atolar nas valetas laterais, quando a estrada estava sendo alargada. Agora todos os motoristas estão mais cuidadosos, pois toda manhã, antes de iniciar o vaivém aos depósitos de material de construção, precisam ouvir uma preleção sobre a importância da disciplina na estrada e na obra.
Antes de encerrar a conversa com a reportagem – embora o repórter diga que trabalha para o Ambiente JÁ, ele insiste em falar para a Erre Bê Esse -, Anildo Osio elogia o local escolhido para passar os últimos anos de sua vida. Segundo ele, a terra arenosa, meio encharcada, favorece tudo quanto é lavoura, especialmente naqueles trechos temperados pela terra preta dos brejos litorâneos. — Aqui dá de tudo: abóbora, aipim, cebola, melancia e...reviria!
Por Geraldo Hasse, direto de Osório para O Diário dos Ventos, série exclusiva do Ambiente Já sobre a construção do maior parque de geração de energia eólica do Brasil