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2005-11-16
Os números são controversos, mas, três décadas depois, pesados os custos econômicos e sociais e os ganhos proporcionados pelo Proálcool (lançado em 14 de novembro de 1975, sob a gestão do então presidente Ernesto Geisel), a conclusão é que o país lucrou. Os investimentos, embora tenham sido praticamente doados aos usineiros para que ampliassem suas indústrias, permitiram o surgimento de uma vigorosa capacidade produtiva e o domínio de uma tecnologia que o mundo tenta copiar. E as previsões de especialistas são que, à medida que crescem as preocupações ambientais, essa infra-estrutura terá de avançar ainda mais: será necessário ampliar lavouras em mais de 50% e investir R$ 30 bilhões na expansão e modernização de usinas para moer 600 milhões de toneladas de cana, para atender a demanda que sinaliza surgir.

Quanto aos ganhos proporcionados pelo Proálcool - cujo lançamento completou 30 anos ontem(14/11), a cifra mais aceita são os US$ 44 bilhões que o Brasil deixou de gastar desde que o Proálcool foi criado, valor mencionado na semana passada pela ministra Dilma Rousseff. Para ela, significa o total de divisas economizadas pelo Brasil nas últimas três décadas.

Para os especialistas, o Proálcool representou mais do que isso, já que, nesse período, o país teria deixado de queimar 300 bilhões de litros de gasolina e, com isso, poupado a atmosfera com a emissão de carbono em volume proporcional.

O cálculo sobre a preservação do meio ambiente foi feito pelo diretor do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Angelo Bressan, para quem a questão ambiental é mais importante do que a econômica.

— Cada vez que produzimos energia renovável, estamos contribuindo para deixar no subsolo um volume expressivo de carbono, ao evitar a extração de petróleo - afirmou.

O efeito disso, segundo afirmou, é multiplicado porque as lavouras de cana absorvem carbono da atmosfera para realizar a fotossíntese.

A questão ambiental é o principal argumento para enaltecer o Proálcool. Depois de extinto em 1990, no governo Collor, pouco sobrou do modelo do Programa Nacional do Álcool em termos de política pública. De fortemente regulada pelo governo, a produção de cana, álcool e açúcar passou a uma extrema liberdade, o que deixou usineiros desorientados. Acostumados a seguir normas ditadas por Brasília, a maioria teve de desenvolver aptidão para negociar de acordo com a livre economia.

O objetivo inicial era poupar divisas. Na ocasião, o preço do barril do petróleo ultrapassava os US$ 40, o que, em valores de hoje corresponde a US$ 90. A idéia de substituir a gasolina pelo álcool tem pelo menos o dobro da idade do programa. Foi idealizado na década de 30 para substituir pelo menos 2% da gasolina do país durante a 2ª Guerra Mundial, quando o combustível era caro e escasso.

Mas o álcool combustível ganhou força no mercado quando as questões ambientais e a escassez de petróleo tornaram-se reais motivos de preocupação. Para José Goldemberg, ex-ministro de Ciência e Tecnologia e atual secretário de Meio Ambiente de São Paulo, não é a oferta nem o preço do petróleo que determinará o futuro do mercado de álcool. Goldemberg acredita que, se a origem da onda de furacões no Caribe e no sul dos Estados Unidos for mesmo o aquecimento global, o petróleo perderá terreno no mercado, abrindo imenso espaço para o álcool combustível.

Segundo o usineiro Roberto Rezende Barbosa, da usina Nova América, o papel do Proálcool nesse processo foi preparar o país, com uma inédita margem de vantagem, para atender o imenso mercado que se forma. (Jornal do Brasil, 14/11)

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