Associação procura trabalhadores que foram expostos ao amianto
2005-11-16
A luta dos ex-trabalhadores da empresa Eternit, de Simões Filho (BA), continua. Nos últimos anos, foram diagnosticadas, em 30 deles, doenças respiratórias decorrentes da exposição ao amianto, uma fibra mineral cuja inalação do pó traz sérias complicações aos pulmões. Dos 2,5 mil ex-funcionários da empresa, cerca de 400 já foram identificados e localizados. Deste total, 180 já concluíram os exames necessários - 23 apresentam placas pleurais e sete tiveram diagnóstico de asbestose, uma doença crônica e sem cura, que causa fibrose pulmonar. Um deles, inclusive, já faleceu de asbestose e outras cem pessoas ainda realizam os exames. Os esforços continuam no sentido de localizar os demais trabalhadores expostos ao amianto para que lhes seja oferecido o acompanhamento de saúde, enquanto se trava a luta, em todo o país, a favor do banimento do uso do amianto nas fábricas.
No último dia 10/11, o assunto foi discutido no II Seminário Amianto na Bahia - Trabalho, Saúde e Meio Ambiente, realizado no Ministério Público, em Nazaré. Lá, a promotora de Justiça do MP em Simões Filho, Hortênsia Gomes Pinho, explicou que cartas e correspondências foram enviadas aos ex-trabalhadores, mas muitos endereços estavam equivocados, dificultando a procura. Assim, a Associação Baiana dos Expostos ao Amianto (Abea), criada há dois anos, solicita que as pessoas em questão entrem em contato através dos telefones 3396 1339/3298 2856/88446543. Segundo a promotora, o uso do amianto já foi banido em 36 países e em quatro estados brasileiros - Rio de Janeiro, São Paulo e Mato Grosso entre eles.
— A nossa luta é para que o governo federal siga a mesma linha e determine o banimento do uso do amianto no país - afirmou a promotora.
Hortênsia Pinho acrescentou que a pressão internacional e das associações ligadas à causa tem sido fundamental nesse processo. O Brasil, inclusive, já conta com uma associação nacional, a Associação Baiana dos Expostos ao Amianto (Abrae), e mais duas regionais - em São Paulo e na Bahia. O MP também propôs uma ação civil pública, já deferida, que busca exigir à empresa Eternit indenização por danos morais aos ex-funcionários.
A promotora salientou ainda que, recentemente, o Conselho Nacional de Publicidade tirou do ar um comercial que anunciava telhas de amianto, afirmando que o produto não fazia mal à saúde. Basta dizer que, desde que os funcionários doentes da Eternit foram diagnosticados, a Bahia registrava apenas um caso de abestose - um jovem que faleceu antes dos 30 anos e que era filho de um trabalhador de uma mina no município de Poções, desativada em 1977 e que utilizava amianto.
A promotora Hortênsia Pinho revelou que a empresa Eternit continua utilizando o amianto na produção de telhas e caixas d´água, mas tomou uma série de medidas de segurança que buscam preservar a integridade física de cem trabalhadores ainda em atividade por lá.
— A medicina, porém, diz que ainda não há um padrão de segurança nesse caso, o que nos faz concluir que o banimento do produto é realmente necessário - destacou. Ela disse ainda que as empresas, inclusive a Eternit, já estão prontas para funcionar com fibras alternativas, mas ainda não substituíram o amianto por se tratar de um produto mais barato e que ainda não é proibido no Brasil.
Diretamente de São Paulo, a assessoria de comunicação da empresa Eternit divulgou que considerou uma atitude antidemocrática o fato de nenhum representante da empresa ter sido convidado para o seminário. A promotora Hortênsia Pinho, por sua vez, afirmou que o convite foi feito. Em nota enviada à imprensa, a Eternit diz que existe a possibilidade de o amianto crisotila ser utilizado de forma controlada e responsável, ao contrário do que insistem em afirmar os participantes do seminário.
A nota afirma que a atividade brasileira - regulamentada por uma legislação que está entre as mais rígidas do mundo - tem comprovado que a fibra, a exemplo do que ocorre com todos os outros minerais, oferece riscos que podem ser minimizados pela tecnologia, proporcionando a continuidade do seu uso, sem qualquer problema para os trabalhadores.
— A melhor prova disso é que o Grupo Eternit não possui em seus registros nenhum caso de disfunção respiratória provocada pelo amianto crisotila entre os atuais e ex-trabalhadores contratados depois de 1980 - continua a nota. (24 Horas News – MT, 11/11)