— Sou contra a implantação de empreendimentos sucroalcooleiros na planície pantaneira e adjacências. Isso é inconstitucional. Estou enviando hoje para o presidente da Assembléia Legislativa (de Mato Grosso do Sul), deputado Londres Machado, carta pedindo apoio para que ajude a reprovar o projeto do governador - afirmou ontem a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A promessa foi feita, por telefone, para Iracema Sampaio de Barros, viúva do ambientalista Francisco Anselmo de Barros, de 65 anos, o Francelmo, que ateou fogo no próprio corpo, em protesto contra a construção de usinas de álcool e açúcar no Pantanal, no sábado. Francelmo morreu no domingo. Ambientalistas brasileiros e estrangeiros enviaram mensagens de pêsames à família. Eles prometem ir em caravanas a Campo Grande, onde se juntarão aos manifestantes que estão contra o projeto do governo do Estado. ONGs marcaram para sexta-feira missas de 7º dia nas catedrais de Brasília, São Paulo e Fortaleza. No sábado, será em Campo Grande.

Já Iracema afirmou que não quer assumir a condição de viúva. — Francelmo está vivo em mim. Vou continuar sua luta de 30 anos.

Em jogo

A Lei nº 328/82 proíbe a instalação de empreendimentos do gênero na região e o projeto nº 170/05, do governador Zeca do PT, é para derrubar essa lei. Apesar de o secretário de Produção e Turismo de Mato Grosso do Sul, Dagoberto Nogueira Filho, ter como melhor argumento as novas tecnologias para instalar as usinas de álcool na Bacia do Alto Paraguai, técnicos e especialistas da área discordam.

Segundo eles, os equipamentos tiveram uma melhora tecnológica, mas ainda não garantem que os efluentes não trarão danos para o Pantanal. O vinhoto, resíduo não fermentado, será sempre um risco para o Pantanal e a ametrina, agrotóxico utilizado na plantação da cana-de-açúcar, também colocará em risco o Aqüífero Guarani.

O assunto foi debatido ontem, no primeiro dia da 2ª Conferência Estadual de Meio Ambiente, em Campo Grande. Na abertura, houve um minuto de silencio pela lembrança de Francelmo, seguido de uma longa salva de palmas.

Os conferencistas criticaram a afirmação do governador de que os ecologistas estão fazendo confusão sobre a construção de usinas na região pantaneira.

— Não há confusão alguma. Sabemos do que trata o projeto e existe risco sim - disse Alessandro Menezes, um dos coordenadores do Fórum de Defesa do Pantanal.

Menezes ressaltou que o projeto, que tramita na Assembléia, não teria sido analisado na Secretaria de Meio Ambiente e contaria com apoio de só um técnico da Secretaria de Produção e Turismo, além do próprio titular da pasta, Dagoberto Nogueira Filho.

O economista Ido Michels, doutor em Geografia, afirma que nem economicamente o projeto é interessante. Para ele, as usinas de álcool não vão trazer desenvolvimento para a região.

— Os municípios que têm usinas no Estado são os mesmos que apresentam a menor faixa salarial. Dizer que elas vão gerar emprego é mentira. (O Estado de S. Paulo, 15/11)