Combustíveis são armazenados sem licença em Caxias do Sul
2005-11-16
A história começa com pequenas gotas de óleo pingando indevidamente no
solo e termina com um problema ambiental enorme. A afirmação não diz
respeito aos postos de combustíveis, mas sim aos tanques aéreos de
empresas e pequenas propriedades rurais. Construídos pela praticidade
de armazenar combustíveis líquidos para seu abastecimento, nem sempre
estão instalados dentro das normas estabelecidas pela lei. E aí começa
o dano ambiental, que pode pôr em risco a saúde e a vida de moradores
das proximidades de onde estão colocados.
No município, não é difícil perceber unidades instaladas indevidamente,
sem nenhum tipo de proteção. Basta um olhar mais atento para
percebê-los. Os tanques aéreos, regulamentados por lei municipal,
precisam ter equipamentos e sistemas de monitoramento, de proteção, de
detecção e contenção de vazamentos. Outro quesito imprescindível é a
bacia de contenção com revestimento não combustível, compatível com a
capacidade do equipamento. Ela irá garantir que, se o tanque se romper,
o líquido derramado não atingirá o solo. Há, também, obrigatoriedade
de alvará do Corpo de Bombeiros, certificação de todos os equipamentos
utilizados e capacitação de pessoas envolvidas na instalação e
licenciamento. Mas essas recomendações técnicas, às vezes, não
sensibilizam seus proprietários.
Um tanque encontrado no bairro Serrano, por exemplo, apresenta
rachaduras no piso de concreto, que deveria ser impermeável, e furo na
bacia de contenção, comprometendo sua finalidade. Ele é de propriedade
de uma pequena transportadora, que o utiliza dentro do terreno, a menos
de 50 metros da entrada de uma casa que está sendo construída. O
ingresso na área de risco, no caso dos tanques, é estabelecido pelo
raio de 7,5 metros que o cerca. Para o consultor ambiental André
Busnello, a reparação do passivo ambiental precisa ser analisada caso
a caso, dependendo do tempo de exposição do solo à contaminação.
Sindipetro reclama
Para o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo
(Sindipetro), os tanques clandestinos representam mais do que prejuízo
ambiental. São considerados uma ameaça aos postos de combustíveis
instalados legalmente. Isso porque o proprietário desses tanques aéreos
recebe combustível com incentivos fiscais para utilizar em seu negócio,
e não para vendê-lo.
O presidente do Sindipetro, Delmar Perizzolo, relata que muitos
proprietários rurais aproveitam a instalação do equipamento para
comercializar combustível aos vizinhos. Assim, eles compram por valor
mais baixo do que o praticado nos postos e evitam vir à cidade para
abastecer. A unidade de armazenamento de combustíveis líquidos é
destinada, por lei, exclusivamente ao detentor das instalações. A
movimentação de veículos para abastecer potencializa o perigo da
atividade irregular.
Outra questão destacada pelo sindicato é a trabalhista. O empregado
que estiver exposto a uma condição legalmente considerada perigosa
deve receber adicional de 30% de periculosidade sobre salário
contratual. Uma das bandeiras do Sindipetro é terminar com a
ilegalidade desse tipo de comércio. O sindicato tem uma lista de pelo
menos 50 tanques irregulares em Caxias.
Legislação é descumprida
Caxias do Sul é uma das cidades pioneiras do país na elaboração de uma
lei que disciplina a localização, instalação, operação e manutenção dos
tanques aéreos e subterrâneos. A Lei nº 6.031, de 2003, é bastante
rigorosa, tornando a instalação de tanques aéreos similar à de um
posto de combustível, se comparados os cuidados a serem adotados. Na
prática, porém, nem sempre se concretiza.
Locais que armazenam quantidades superiores a 15 mil litros de líquidos
inflamáveis - corrosivos ou tóxicos - são fiscalizados pela Fundação
Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Pelos eficientes dispositivos
de segurança obrigatórios, a existência de vazamentos é pouco provável
e, caso ocorra, é identificada e resolvida antes de causar um grande
dano ambiental. Nesses casos, a clandestinidade praticamente inexiste.
Isso não se repete com os tanques menores, cuja fiscalização fica a
cargo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma).
Um pequeno proprietário rural - que não quis se identificar - afirma
ser praticamente inviável cumprir a burocracia exigida para ter um
tanque regular na propriedade. Mesmo assim, mantém uma unidade com 5
mil litros, sem licenciamento ambiental.
O secretário municipal do Meio Ambiente, Ari Dallegrave, concorda que
a lei é bastante rígida, mas afirma não haver tolerância em sua
aplicação. O fato desses tanques estarem instalados de forma
clandestina, segundo ele, torna difícil sua identificação. Por
enquanto, as ações da secretaria, diz Dallegrave, são de
fiscalização freqüente :
- Mandamos notificações para que sejam regularizadas pelo menos as
caixas de contenção e cobertura.- (Pioneiro, 15/11)