Pantanal está ameaçado e mídia continua calada
2005-11-16
Pólos siderúrgico e petroquímico, usinas de álcool e açúcar, fim da pesca profissional e gás natural boliviano contaminado por mercúrio são algumas das ameaças iminentes no Pantanal que não estão sendo divulgadas adequadamente pelos veículos de comunicação e imprensa regionais. Estas foram as revelações do jornalista Allison Ishy, da Rede Aguapé de Educação Ambiental do Pantanal, em sua apresentação no painel Jornalismo na Amazônia e Pantanal, realizada durante o I Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental em Santos, São Paulo.
Além dos meios de comunicação de Mato Grosso do Sul não informarem a população sobre os conflitos ambientais e sociais existentes no Pantanal devido aos interesses econômicos e políticos de grandes grupos, entre eles a própria imprensa, pesquisadores renomados tem sido desacreditados e ridicularizados na região. Vários cientistas estão sendo pressionados e, num caso citado durante o painel, o jornalista relatou chantagem e invasão da privacidade por profissionais precários (sem a formação acadêmica do jornalismo).
Outro assunto abordado pelo jornalista foi o livro Máfia Verde, que tem servido para ajudar a fazer a contra-informação, ou seja, descredibilizar os trabalhos de dezenas de profissionais de jornalismo ambiental, das áreas biológicas e de educação ambiental que têm atuado com responsabilidade e seriedade na região do Pantanal.
Allison Ishy também propôs a discussão sobre a verdadeira vocação do Pantanal, alegando que todo o potencial da região (ainda incalculável economicamente) não está sendo valorizado como deveria.
— Um Pantanal de morros e serras que lembram paisagens andinas, ondas de até 4 metros de altura nas gigantescas lagoas onde não se vê terra, as cores, a musicalidade, as tradições e cultura pantaneira, além de um ambiente muito inóspito, onde indígenas estão morrendo de fome, não aparecem nas TVs-,informa.
Diante deste cenário preocupante, o jornalista apontou durante sua palestra trabalhos que estão sendo realizados por educomunicadores e jornalistas ambientais dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Por meio da comunicação alternativa, estas pessoas que trabalham pela conservação e educação ambiental do Pantanal, conseguem levar informações verdadeiras para as populações locais. Infelizmente, a maior parte da população brasileira continua desinformada sobre a realidade ecológica e de quem mora no Pantanal.
— A mídia alternativa e socioambiental local se esforça para quebrar o silêncio sobre ameaças iminentes ao Pantanal, uma interligação única do meio ambiente formada com os biomas Cerrado, Chaco, Mata Atlântica, relictos de Caatinga e Amazônia. Infelizmente as mídias e meios de comunicação socioambientais existentes na região do Pantanal não têm o poder de penetração dos grandes veículos de comunicação-, lamentou Ishy.
Para que todos entendessem a fragilidade do Pantanal diante de tantas ameaças e diante de tantos trabalhos de contra-informação, o jornalista apresentou imagens de satélite e animações multimídia para explicar o funcionamento da Bacia do Alto Paraguai (onde está o Pantanal) e suas ligações diretas com a planície pantaneira. Dessa forma conseguiu alertar a todos que o Pantanal, Patrimônio Natural da Humanidade, Patrimônio Nacional e Reserva da Biosfera Mundial, deve ser conservado porque é uma região única no mundo, considerada a maior área alagável do mundo e local de grande biodiversidade de flora e fauna.
Outros problemas do Pantanal também foram citados pelo jornalista, como o assoreamento do rio Taquari, considerado o maior desastre ambiental do país, a devastação do Pantanal pela ação de carvoarias (muitas delas em funcionamento precário), as autorizações de desmatamentos sem controle, problemas causados pelos novos colonizadores (proprietários de terras) do Pantanal, que vêm de outros Estados e acabam por degradar mais o Pantanal social e ambientalmente pelo desconhecimento da região e ausência de respeito às tradições das populações pantaneiras.
(Informações do site Terra Azul. Allison Ishy é jornalista da Rede Aguapé de Educação Ambiental do Pantanal)