Protocolo de Kyoto muda tanto quanto o clima
2005-11-16
Igual ao presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, cada vez mais e mais governantes entendem dinheiro e mercados quando ouvem o termo mudança climática. Portanto, poderiam estar seguindo os passos de Bush contra a reversão desse processo ambiental mais do que tentando convencê-lo a aceitar os convênios internacionais na matéria, como o Protocolo de Kyoto da convenção de Mudança Climática. Alguns Estados norte-americanos aprovaram sistemas de permissão para emissão de gases que provocam o efeito estufa que coincidem com as previsões do Protocolo – rejeitado por Washington – e com as normas da União Européia.
Porém, as autoridades desses mesmos Estados podem enfrentar agora vários chefes de governo do mundo que se aliam com Bush, que lhes deu as costas nessa matéria. Estes temores ficaram evidentes na conferência de representantes de 20 governos, entre eles vários ministros de Meio Ambiente, convocada pelo governo da Grã-Bretanha e realizada na quinta (10/11) e sexta-feira (11/11) em Londres. Tratou-se de uma reunião preliminar à conferência das partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá em Montreal, Canadá, entre 29 deste mês e 9 de dezembro. Porém, a reunião não se insere nas atividades da Convenção, pois é parte de uma iniciativa do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, no Grupo dos Oito países mais poderosos do mundo, realizada em julho, na Escócia.
Sua intenção tinha o propósito implícito de levar China e Índia, entre outras economias emergentes do Sul em desenvolvimento, a assumirem os mesmos compromissos das do Norte industrial em matéria de redução nas emissões de gases causadores do efeito estufa. A reunião em Londres terminou sem resultados.
— Mas o que ouvimos é uma mudança significativa nos compromissos sobre metas de redução de emissões desses gases - disse à IPS Camilla Toulmin, do não-governamental Instituto Internacional para o Meio Ambiente o Desenvolvimento.
— Evidentemente, Blair acredita que as metas e os compromissos obrigatórios afugentam as pessoas e as deixam nervosas. Por isso, prefere dar maior ênfase em questões como o desenvolvimento tecnológico - acrescentou.
A maioria dos cientistas concorda que o aquecimento do planeta é causado pelas atividades humanas, sobretudo pela liberação de gases em processos industriais, de transporte e domésticos pela queima de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão. Esses gases, dos quais o principal é o dióxido de carbono, acumulam-se na atmosfera e, pela sua grande capacidade de reter o calor dos raios solares, acentuam o chamado efeito estufa. Blair disse depois da conferência que a indústria estava se colocando muito nervosa e muito preocupada quanto às metas específicas do Protocolo de Kyoto.
— As pessoas – afirmou, se referindo aos industriais – temem que alguma força externa lhes imponha meta interna que restrinja o crescimento econômico. Creio que no mundo posterior a 2012 necessitaremos de uma série de mecanismos melhores e mais delicados para atacar este problema.
Isto significa, de fato, um empurrão para a morte do Protocolo de Kyoto. Segundo o convênio elaborado nessa cidade japonesa em 1997, os países industrializados devem reduzir as emissões em, pelo menos, 5,2% no primeiro período de implementação (2008-2012) em relação aos níveis de 1990. Países em desenvolvimento como Índia e China estão isentos de introduzir novas tecnologias para diminuir suas emissões. A base dessa exclusão é o convencimento de que os países industriais são responsáveis pela maior parte da contaminação e, portanto, devem ser os primeiros a reduzirem suas emissões. China e Índia também consideram que as suas emissões, em relação às suas populações, são minúsculas em comparação com as do Norte industrial.
Porém, Blair argumenta que a expansão maciça da indústria desses países obriga a incluí-los em qualquer compromisso que se alcance para depois de 2012. China e Índia apóiam o Protocolo, mas não se forem obrigadas a cumprir metas e compromissos de redução de suas emissões. A nova tecnologia necessária para isso tem um custo, e esses países temem que esse custo eleve o preço de seus produtos a níveis capazes de afetar sua competitividade no mercado internacional.
— Creio que há uma grande preocupação pelo poder econômico e pela competitividade da China e Índia. Por isso, na Grã-Bretanha, Europa e América do Norte, empresários parecem querer retroceder em suas regulamentação de diferentes tipos, como a ambiental, porque acreditam que prejudicará sua capacidade de competir com eficácia com China e Índia. Essa é uma das razões pelas quais vemos uma mudança de regulamentações mais rígidas ao que se acredita um ambiente mais amistoso para os negócios - disse Toulmin.
Trata-se de um temor infundado, segundo a especialista.
— O interessante é que muitos empresários britânicos e europeus procuram maior regulamentação. Querem que o governo lhes diga qual será o contexto, para assim poderem planejar para os próximos cinco, 10 ou 15 anos.
A reunião ministerial de Londres terminou sem acordos específicos. — Eram 20 países falando juntos sobre tecnologias limpas e o alcance das tecnologias para se conseguir reduções de emissões de gases causadores do efeito estufa - disse à IPS Catherine Pearce, da organização Amigos da Terra.
— Não houve compromissos, cronogramas nem metas. Isso foi o que havia se adiantado na reunião do Grupo dos Oito deste ano. É uma grande coisa ver as coincidências de China, Índia e Estados Unidos quanto ao potencial das fontes renováveis de energia para reduzir as emissões de dióxido de carbono. (IPS/Envolverde, 12/11)