Conferência sobre reforma agrária traz debate sobre desenvolvimento sustentável
2005-11-11
A representante da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag) Carmem Foro avalia que o debate sobre o desenvolvimento sustentável irá nortear a 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, que será realizada em Porto Alegre no próximo ano.
— Não dá para discutir reforma agrária separada de uma proposta de desenvolvimento porque ela trás para o conjunto do debate, para nós do movimento social, a afirmação política de que reforma agrária tem que ser como política forte, econômica, social e não uma política de compensação como ocorre em muitos países.
A primeira conferência sobre o tema aconteceu em 1979. — Após 27 anos esse tema passar a fazer novamente parte de uma agenda internacional-, destaca Foro.
Para o integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Rogério Mauro, o encontro internacional vai reforçar a idéia de que a reforma agrária é um tema atual. — O modelo neoliberal não conseguiu resolver os problemas agrários. Pelo contrário, agravou ainda mais a situação-, afirma Mauro.
Desde quarta-feira (9), o comitê brasileiro formado por oito representantes de órgãos federais e 21 integrantes de movimentos sociais e organizações não-governamentais, além da FAO no Brasil, debatem em uma oficina preparatória as propostas que o Brasil pretende levar ao encontro no ano que vem. (Agencia Brasil, 10/11)
Após três décadas, países se reúnem para discutir reforma agrária e fim da pobreza
A discussão sobre o papel do desenvolvimento rural na superação da fome e da pobreza será retomada após quase três décadas na 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, ano que vem em Porto Alegre (RS).
A primeira edição do evento, promovido pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), ocorreu há 27 anos. — O objetivo estratégico dessa conferência é recolocar a reforma agrária e o desenvolvimento na agenda internacional-, disse o diretor da Divisão de Desenvolvimento Rural da FAO, Parviz Koohafkan.
Segundo Koohafkan, a reforma agrária é fundamental para a redução da pobreza e da fome. — A segurança alimentar do mundo está nas mãos de pequenos agricultores. Dois bilhões de pessoas vivem de pequenas agriculturas-, argumentou. O diretor destacou que, além da reforma agrária, é preciso desenvolver serviços de apoio à agricultura e garantir investimentos para o setor.
Ele aponta que a retomada da discussão deve envolver participação social no processo. — O contexto da reforma agrária sofreu mudanças. Nos anos 60 e 70, a reforma agrária era uma iniciativa de governo. Agora, necessitamos de uma participação massiva de todos os setores da sociedade civil e pequenos agricultores em um processo de desenvolvimento rural e reforma agrária.
Nesta semana, representantes do governo e da sociedade civil participam de uma oficina para discutir as propostas brasileiras para a conferência. Na abertura da oficina, o ministro Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência da República, afirmou que a discussão sobre reforma agrária foi colocada de lado por causa de interesses econômicos.
— Existem forças econômicas e forças políticas e ideológicas que desqualificam a cada dia a importância e a necessidade da reforma agrária como se fosse uma questão residual, no máximo, de política social compensatória e não uma questão estrutural do modelo de desenvolvimento-, disse ele.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que é preciso compromisso ético dos países em relação ao desenvolvimento rural. —Infelizmente, dois bilhões de seres humanos sofrem graves problemas em relação à segurança alimentar. É um problema de ética-, avaliou ela.
—Eu acho que a humanidade já produziu conhecimento, tecnologias, meios de sobrevivência em todos os sentidos da vida que dariam com certeza para suprir as necessidades dos seis bilhões de seres humanos que vivem no planeta.
O representante da FAO no Brasil, José Tubino, afirmou que o país foi escolhido para sediar a conferência pelo seu compromisso com a questão agrária. —O processo preparatório da conferência no Brasil é um exemplo de participação, de construção conjunta de uma posição de país que eu diria não acontece em outros países-, justificou. (Agência Brasil, 9/11)