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2005-11-11
O anúncio do presidente mundial da chinesa Baosteel, Xu Lejiang, de adiar por tempo indeterminado a construção de uma usina de placas de aço no Maranhão, envolvendo US$ 2,4 bilhões, pegou de surpresa o governo do Estado. — Isso é novidade para nós - disse Ronaldo Braga, secretário estadual de Indústria, Comércio e Turismo. Braga é o representante do governador José Reinaldo Tavares (PTB) nas negociações do projeto, que envolvem ainda o grupo europeu Arcelor e Vale do Rio Doce.

A Vale preferiu não se manifestar sobre a notícia, conforme sua assessoria de imprensa. Já Braga, ainda sob o impacto da informação, adiantou ao Valor que no dia 27 de outubro houve reunião no Rio entre representantes dos investidores - Vale, Arcelor e Baosteel - e do governo maranhense para continuar negociando soluções para os entraves ao projeto, como a construção de um porto para a usina e a cessão do terreno onde deveria ser instalada. Segundo seu relato, nesse encontro não houve qualquer menção da Baosteel sobre um possível adiamento da obra.

— A próxima reunião está marcada para 16 deste mês, em São Luís, data em que a Câmara de vereadores local deverá votar a mudança da lei de zoneamento, o que permite a transferência do terreno do Estado para a siderúrgica - contou o secretário. A mudança no zoneamento ocorre após a realização de 11 audiências públicas e é necessária porque o terreno onde seria construída a usina situa-se em área de uso rural e não industrial.

A questão do terreno foi mencionada pelo presidente da Baosteel como um dos entraves do negócio.

— Tivemos algumas dificuldades em termos de aquisição de terrenos, certificações ambientais e impostos - disse Xu em Xangai, segundo a Reuters. A questão ambiental, outro item, só seria resolvida após os investidores tomarem posse do terreno, informou Braga.

O secretário explicou que a Câmara só irá modificar o zoneamento para mil hectares, que integram uma área de 4.200 hectares onde inicialmente se imaginava instalar três siderúrgicas aptas a fabricar até 22,5 milhões de toneladas de placas ao ano, formando um pólo. Dos três projetos, com investimento total estimado em US$ 11,4 bilhões, apenas o da Baosteel evoluiu, mas não saiu do papel. A coreana Posco, que há um ano assinou um memorando de entendimento com a Vale para outra usina, optou por investir na India. O terceiro parceiro nunca apareceu.

— Vamos aguardar os fatos - declarou Braga. Ele não descartou que caso se confirme a decisão da Baosteel, a Arcelor possa continuar o projeto com a Vale. — Vamos continuar no mesmo ritmo de trabalho - ressaltou. Ele considerou ainda a hipótese de buscar novos interessados para o pólo. Lembrou que a aprovação da MP do Bem reduziu em cerca de US$ 180 milhões o custo do projeto. No início do ano, a Baosteel já sinalizara que não estava disposta a arcar com o adicional de US$ 400 milhões na usina por conta de tributos.

A notícia não impactou o mercado, que já esperava por isso, devido ao excesso de oferta de aço no mundo por conta da China, que deve produzir 343 milhões de toneladas este ano. Para Pedro Galdi, analista de mineração, se um projeto desse porte ainda não foi iniciado, os investidores vão agora agir com cautela e engavetá-lo esperando o mercado se equilibrar. (Valor Econômico, 09/11)

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