Ação do homem no Parque Nacional das Emas ameaça a biodiversidade
2005-11-11
O Parque Nacional das Emas (PNE), com cerca de 133 mil ha, localiza-se na área nuclear
do Cerrado e foi incluído pela Unesco em 2001 na lista dos Patrimônios Naturais da
Humanidade. Porém, a vegetação do PNE ainda permanece pouco estudada. Um mapeamento
realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) reuniu
trabalhos existentes sobre a vegetação do Parque Nacional das Emas, de modo a ampliar
o conhecimento sobre o tema.
Marcus Vinicius Cianciaruso e Marco Antônio Batalha, do Departamento de Botânica da
UFSCar, descreveram os tipos vegetacionais e fisionomias de cerrado ocorrentes no PNE,
atualizaram a listagem anteriormente disponível, corrigiram algumas identificações e
incluíram algumas espécies. Segundo Batalha, o cerrado no PNE apresenta quase todas
as variações fisionômicas. Essas fisionomias são estacionais, uma vez que uma estação
sem chuvas maior faz com que o fogo e a seca definam a ritmicidade do seu
funcionamento .
O cerrado é a maior região de savana nas Américas e ocupa cerca de dois milhões de
quilômetros quadrados, ou aproximadamente 23% do território brasileiro e mais de 90%
do Planalto Central Brasileiro. Por sua alta riqueza, alto endemismo e atual estado de
conservação, pesquisadores incluíram o cerrado entre os 25 pontos quentes (hotspots)
para conservação no mundo. Atualmente, cerca de 55% do cerrado, ou seja, quase três
vezes a área desmatada na Amazônia brasileira, já foi desmatado ou transformado pela
ação humana. Essas transformações trouxeram grandes danos ambientais, como por exemplo,
a fragmentação de hábitats, extinção de espécies, invasão por espécies exóticas,
erosão dos solos, poluição de aqüíferos e, possivelmente, modificações climáticas
regionais.
Recentemente, os pesquisadores da UFSCar relataram a primeira ocorrência de um cerrado
hiperestacional, com aproximadamente 300 ha, localizado na porção sudoeste do PNE,
evidenciando ainda mais a importância do PNE para a conservação da biodiversidade do
cerrado. No cerrado hiperestacional, há alternância de dois estresses contrastantes
durante o ciclo anual, um induzido pela seca e fogo e outro induzido pela saturação
hídrica do solo. As áreas de campos úmidos são prioritárias para conservação, pois
apresentam importantes funções ecológicas como a alta diversidade e produtividade;
contribuição significativa aos processos globais de transferência de gases do efeito
estufa e manutenção da qualidade dos cursos d’água. Além da intervenção antrópica
direta, essas comunidades também estão ameaçadas pelo rebaixamento do lençol freático,
que pode ocorrer devido ao desmatamento e ao uso urbano e agrícola da água da bacia
hidrográfica a que pertencem, mesmo quando se encontram em unidades de conservação
(UCs).
A importância das áreas de campo úmido se torna maior ao considerarmos que o PNE
localiza-se em um dos mais importantes divisores de água da América do Sul, onde
nascem os rios Araguaia, Taquari e Sucuriu que formam, respectivamente, a bacia do
Amazonas, do Pantanal e do Paraná. Além disso, o PNE encontra-se sobre o aqüífero
Guarani, um dos maiores mananciais de água potável subterrânea do mundo, que vai do
estado de Minas Gerais ao Paraguai. – No PNE, existem áreas de afloramento e recarga
direta do aqüífero, o que é apenas mais um motivo para promover a sua preservação e,
em especial, dar maior atenção às áreas úmidas do Cerrado, que são praticamente
desconhecidas do ponto de vista ecológico-, ressalta Batalha. (UFSCar, 09/11)