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2005-11-11
Pesquisadores do Centro de Proteção de Primatas Brasileiros do Ibama (CPB) registraram e obtiveram relatos de ocorrência da presença de macacos guaribas em 45 áreas no estado do Piauí. Estes dados foram obtidos durante mais uma expedição de levantamento e mapeamento das áreas de ocorrência da espécie Alouatta ululata. Esta é uma das 10 espécies de primatas consideradas criticamente em perigo.

O projeto em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado do Piauí (Semar) conta, também, com o apoio da Gerência Executiva do Ibama daquele estado. No total foram três expedições no ano de 2005, nas quais os técnicos percorreram mais de 5.500 km, onde visitaram155 áreas em 33 municípios no norte do estado. O trabalho ainda não está terminado. Os especialistas voltarão ao Piauí em 2006 para concluir o levantamento e avançar para o centro-sul. – O número de áreas a percorrer é maior do que o esperado. Estamos obtendo registro destes animais em ambientes dos mais diversos: matas serranas, caatinga, cerradões, até manguezais-, explica o biólogo Marcelo Marcelino, chefe do Centro.

Este trabalho de mapeamento procura além de registro das áreas de ocorrência das populações remanescentes da espécie, obter uma estimativa do tamanho dessas populações e identificar espacialmente o estado de conservação da espécie ao longo de sua área de ocorrência. Estes dados vão ajudar a elaborar um plano nacional de conservação destes guaribas.

Apesar da redução e do isolamento das áreas de mata ser um fator preponderante para a extinção da espécie, a caça vem sendo a maior preocupação dos pesquisadores. – O animal está sendo muito caçado e o seu isolamento facilita ainda mais a caça. Em várias localidades os guaribas já foram extintos e em outras a sua extinção é eminente por causa da caça-, alerta a bióloga Juliana Gonçalves, responsável pelo projeto. Na localidade de Jacaraí, no município de São José do Divino, os pesquisadores obtiveram o relato de que o último exemplar de guariba foi comido por urubus no galho da árvore onde tombou morto por um tiro de caçador. “A caça destes animais é covarde e revoltante, porque o animal não foge ao ser surpreendido. Morre olhando pacificamente para o caçador-, afirma Marcelo Marcelino.

O Parque Zoobotânico da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí está cuidando de dois filhotes de guariba. Segundo o veterinário Luciano Lucena, não se conhece a história destes filhotes, mas provavelmente são vítimas da ação de caçadores que devem ter matado suas mães, já que chegaram ao Parque ainda em fase de amamentação.

Por outro lado, em alguns municípios como Campo Maior, Caxingó, Joaquim Pires, Pedro II, vários proprietários de terras não são tolerantes à caça em suas propriedades, principalmente dos guaribas, tornando estas áreas verdadeiros santuários para algumas populações remanescentes da espécie.

No Ceará, onde os pesquisadores estiveram em 2004, o mapeamento já foi concluído, e a Serra da Ibiapaba é a principal área de concentração de guaribas no estado. Nesta área, o Ibama estará realizando ainda este ano uma extensa campanha contra caça destes animais, envolvendo o Parque Nacional de Ubajara, a Área de Proteção Ambiental da Serra da Ibiapaba e o Escritório Regional de Sobral.

Os pesquisadores do Centro de Proteção de Primatas Brasileiros estão realizando também estudos de DNA e citogenética das populações de guaribas do Piauí. Usando armas com dardos anestésicos, os pesquisadores capturaram nesta última expedição um exemplar macho adulto para a coleta de sangue. Este material além de servir para os estudos em genética, será aproveitado também para análise laboratoriais que verificam o estado de saúde do animal e a presença ou não de hemoparasitas.

Na captura, para evitar qualquer risco de acidente com o animal, os pesquisadores utilizam uma droga anestésica dissociada de relaxante muscular. Neste procedimento o guariba adormece na árvore e é apanhado por um escalador que desce o animal em segurança dentro de um saco de tecido amarrado a uma corda. Uma vez no chão os pesquisadores coletam o material sanguíneo e fazem o registro dos dados de morfometria. Todo este procedimento dura menos de uma hora.

Os macacos guaribas, também conhecidos como bugio ou capelão, são encontrados em quase todo o Brasil. São animais grandes, que vivem em bandos de seis a oito indivíduos, às vezes até mais, habitando áreas de mata, onde alimentam-se de folhas, que representam entre 40 a 50% de sua dieta, além de flores e frutos. Chegam a pesar mais de 5 kg e são conhecidos por seus gritos potentes, que podem ser ouvidos a grandes distâncias. Essa capacidade se deve a um proeminente osso hióide na garganta, que funciona como uma caixa de ressonância, amplificando o som do seu grito. Acredita-se que os gritos sirvam para estabelecer sua área de domínio na floresta em relação aos demais grupos de guaribas. Um grupo social de guaribas é geralmente é constituído por um macho adulto, dominante, duas fêmeas adultas e um número variável de animais juvenis e filhotes. As fêmeas reproduzem um filhote a cada gestação, que dura em torno de seis meses. O filhote permanece agarrado à mãe até o vigésimo mês quando é desmamado.

No Brasil existem seis espécies de macacos guaribas, cientificamente conhecidos como primatas do gênero Alouatta. Este Gênero possui ao todo dez espécies reconhecidas, sendo que as demais espécies ocorrem em outros países da América do Sul e na América Central. Os guaribas da espécie Alouatta ululata são endêmicos ao Brasil, isto é, só ocorrem em nosso país. São animais muito bonitos, com coloração predominantemente negra com as mãos, pés, a ponta da cauda e parte das costas de cor variando de castanho-avermelhado a amarelo, tendo ainda a parte lateral dos pêlos mais longos com a mesma coloração das costas. (Ibama, 09/11)

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