Silvio Berlusconi relança discussão sobre energia nuclear na Europa
2005-11-11
O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, relançou ontem (10/11) o debate sobre a energia nuclear, abandonada pela Itália em 1987, ao pedir uma decisão européia sobre o reatamento da construção de centrais nucleares.
–Temos necessidade do nuclear, mas esta palavra ainda assusta o mundo. Apenas a Europa, através de uma decisão comum, poderá apelar aos Estados membros para que retomem a construção de novas centrais–, declarou Berlusconi numa intervenção em Roma.
A Itália consome 17% a mais de eletricidade do que produz, comprando a restante energia da França (que tem onze centrais) e da Suíça (cinco).
Em janeiro, Berlusconi já tinha relançado o debate sobre o nuclear. –A Itália continua a pagar muito caro pela sua eletricidade. Devemos começar a refletir sobre as nossas fontes e colocar em cima da mesa a possibilidade de utilizar o nuclear–, disse então.
O político italiano lembrou que a península está rodeada de países equipados de centrais nucleares e que –se ocorrer um acidente, a Itália e os seus cidadãos vão sofrer as conseqüências–.
Os italianos pronunciaram-se a favor do abandono do nuclear num referendo organizado em 1987, pouco depois da catástrofe nuclear de 26 de abril de 1986 em Chernobyl, na Ucrânia, que levou ao encerramento das suas quatro centrais nucleares. No entanto, os cidadãos não esquecem o apagão de 28 de setembro de 2003, quando uma falha no sistema de abastecimento de eletricidade da Suíça deixou na escuridão toda a península, do Vale da Aosta até a Sicília.
Na Alemanha, a questão nuclear está no centro das conversações entre conservadores e sociais democratas. O governo ainda no poder do SPD e o Partido Verde introduziram uma lei em 2000 que exige o encerramento em fases da energia nuclear até 2020. Agora, os conservadores de Angela Merkel querem adiar esse prazo limite. Esta é uma das mais polêmicas questões debatidas ontem (10/11), durante um encontro que pretende avançar na construção de um governo de coligação.
Também ontem (10/11), um grupo de cientistas britânicos do Centro de Investigação Energética defendeu que o Reino Unido deve renovar as suas centrais nucleares sob pena de não conseguir cumprir as metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa exigidas pelo Protocolo de Kyoto.
–Não vemos forma de satisfazer a procura energética sem manter a capacidade nuclear–, disse John Loughead, diretor daquele centro, lembrando que o crescimento das energias renováveis só mudará a vida das pessoas dentro de uma década.
Mas o tema do nuclear - reposto na agenda internacional devido ao aumento do preço do petróleo - levanta também a questão dos resíduos gerados. Ontem, o estado norte-americano do Utah apelou ao tribunal que rejeite a aprovação da construção de um armazém para 44 mil toneladas de resíduos nucleares, a 70 quilômetros de Salt Lake City. (Ecosfera, 10/11)