Universidade defende matança de capivaras para evitar epidemia de febre maculosa
2005-11-10
As capivaras de São Paulo que se cuidem. Já há quem defenda uma ampla e irrestrita matança do animal no estado para conter uma possível epidemia de febre maculosa. A capivara é um dos principais hospedeiros do carrapato transmissor da doença e, segundo especialistas, há uma superpopulação do animal no estado. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) admite a superpopulação mas só vai considerar possibilidade de extermínio dos animais se ficar comprovada a existência de uma epidemia - e que a capivara é responsável por ela.
No domingo, uma menina de 12 anos morreu na capital paulista com suspeita de febre maculosa e na terça-feira a mãe também foi internada com os sintomas da doença. Em outras cidades, há centenas de casos. Piracicaba é atualmente o município com o maior número de casos de febre maculosa no país. Já são 229 casos suspeitos, sete deles confirmados. Cinco pessoas morreram. Uma delas foi um menino de 7 anos filho de um professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba. O campus da escola está infestado de carrapatos.
— Quando a população de algum animal entra em desequilíbrio, por qualquer motivo, nós temos que tomar ações drásticas para evitar riscos à saúde humana - defende o professor Wilson Matos do Departamento de Zootecnia da Esalq. Para ele, o governo estadual de São Paulo precisa agir logo para evitar mais mortes e a forma mais eficaz, segundo o professor, é aprovando uma lei autorizando a matança dos animais, que são silvestres e, por isso, protegidos pelo Ibama.
— Se o estado não tomar medidas urgentes, vai morrer mais gente de febre maculosa - alerta o professor - As capivaras encontram muita comida nos arredores das matas ciliares onde vivem em São Paulo por causa das muitas plantações de cana e milho, mas não podemos pedir para que os produtores deixem de plantar - afirma.
A capivara tem levado a culpa como principal hospedeiro do carrapato transmissor da doença, mas o inseto também é encontrado em cavalos, bois, cachorros e gatos, alerta Carlos Yamashita, analista ambiental do Ibama em São Paulo. A idéia de matar capivaras para conter a doença é, segundo ele, precipitada.
— Defender a matança é atacar a conseqüência e não a causa - critica.
— A idéia deles foge totalmente aos preceitos de uma universidade, que deveria pesquisar meios para se resolver o problema sem apelar para soluções fáceis. No Rio, o carrapato estava em um cavalo. Vamos matar cavalos? - diz ele.
O professor Matos lembra que países como a Austrália e Estados Unidos permitem a caça de animais quando as populações crescem demais, representando riscos à população. E no Rio Grande do Sul, a caça de javalis é autorizada pelo mesmo motivo.
Para Yamashita, no entanto, matar as capivaras não resolve o problema.
— É como matar baratas sem limpar o ambiente. Não adiantará nada - afirma. (O Globo Online, 09/11)