Reciclagem ganha espaço como negócio e já ajuda no faturamento das grandes empresas
2005-11-09
O Brasil é um dos países que mais reciclam no mundo. Somos tetracampeões mundiais no reaproveitamento de linhas de alumínio, com índice de 95,7%; líder nas Américas em volume de embalagens longa vida recicladas – 34,6 mil toneladas; e terceiro lugar na transformação de plásticos – 16,5% viram novos produtos. Nesses últimos dez anos, a indústria brasileira da reciclagem amadureceu, cresceu e está se expandindo para todas as áreas. Junto com ela, companhias de todos os segmentos e tamanhos passaram a utilizar os resíduos e sucatas produzidos no chão das fábricas ou nos escritórios como fonte de economia e de receita. O conceito da gestão ecoeficiente, que visa operar empresas reduzindo ao máximo o consumo de matérias-primas, insumos e energias, além de diminuir o impacto ambiental, começa também a gerar lucros.
— É simplesmente burrice não reciclar. Além de ser lucrativo, agrega valor aos produtos - diz Jorge Cajazeira, presidente do Compromisso Empresarial para Reciclagem.
Que o diga a Embraer, terceira maior fabricante de jatos comerciais do planeta, que conseguiu gerar R$ 11,6 milhões em receitas no ano passado, graças à reciclagem de materiais. Até chegar a esse estágio, foi um processo longo que decolou em 1998 e envolveu todos os funcionários da companhia. Começou com papel, copinhos plásticos, vidros recolhidos nos escritórios. Hoje, atinge todos os setores da administração e das fábricas, abrangendo metais, madeira e até óleo de cozinha empregado nos restaurantes. Ao longo de 2004, a Embraer reciclou 9,3 milhões de toneladas ou dois terços de todo o volume de resíduos gerados pela sua principal unidade em São José dos Campos (SP).
Outra que está nadando de braçadas na onda da reciclagem é a AmBev, maior cervejaria da América Latina e líder absoluta no mercado brasileiro. Só com a economia de água entre 2003 e 2004, a empresa economizou R$ 17,6 milhões. O uso racional da água, aliás, deu à AmBev a liderança mundial como menor consumidora de água na produção de bebidas. Hoje, ela consegue produzir um litro de cerveja com 3,32 litros de água, enquanto as outras cervejarias gastam quatro litros. Cascas de grãos, sobras de rótulos e outros detritos são totalmente reaproveitados. As cascas do malte, levedura e outros produtos utilizados na fermentação, por exemplo, são reutilizados como fonte de proteína para ração animal. No ano passado, a venda desses materiais foi responsável por um aumento de 31% na receita da companhia. E isso é só o começo. Embraer e AmBev são dois exemplos de uma política que já deu certo e está gerando lucros e empregos e se espalhando por todo o País. (Revista Istoé, 08/11)