Quando o ar puro é uma obrigação bíblica
2005-11-09
Em seus longos e frustrados esforços para fazer com que o Congresso norte-americano aprove uma legislação sobre aquecimento global, ambientalistas estão ganhando um novo aliado. Com crescente vigor, grupos evangélicos que fazem parte da base de apoio de líderes republicanos estão fazendo campanhas por leis que possam reduzir as emissões de dióxido de carbono, substância apontada por cientistas como tendo vínculo com o aquecimento global.
Em um esforço de última hora, a Associação Nacional de Evangélicos dos Estados Unidos, uma organização não-governamental que inclui 45 mil igrejas que servem 30 milhões de pessoas no país, está fazendo circular entre seus líderes o projeto de um compromisso político que poderia encorajar legisladores a aprovar a legislação sobre o assunto, criando controles mandatários sobre as emissões de carbono.
Ambientalistas detêm-se em evidências empíricas como seu argumento para a ação Congressista, e muitos evangélicos vão além, acreditando que a proteção do planeta das atividades humanas que causam o aquecimento global é uma questão de valor que preenche os ensinamentos bíblicos, requerendo que os humanos sejam bons guardiões da Terra.
— Gênesis 2:15–, afirma Richard Cizik, vice-presidente para Negócios Governamentais da Associação, citando a passagem que serve como justificativa dos esforços: — O Senhor tomou o homem e o colocou no Jardim do Éden para trabalhar e zelar por ele.
— Acreditamos que temos uma responsabilidade direta pelo que a Bíblia mesma desafia–, diz Cizik. —Trabalhar a terra e cuidá-la para que possa ir de mão em mão. É o que eu penso, e digo, sem apologias, que devemos ser capazes de trazer uma nova voz a este debate–, completa.
De sua parte, os grupos de ambientalistas têm tido um raro progresso sobre a legislação referente ao aquecimento global no Congresso, além de uma resolução não vinculada, no Congresso, no último verão, que recomenda um programa de controle de gases causadores do aquecimento global.
Dirigentes do Sierra Club e do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais disseram que eles consideram bem-vinda a ajuda dos evangélicos em prol de sua causa. Mas concordam que permanece incerta a diferença prática que ela pode fazer. Um grande obstáculo a qualquer medida endereçada a combater o aquecimento global é o senador James M. Inhofe, um republicano de Oklahoma que é secretário do Comitê de Obras Públicas e Meio Ambiente do Senado e evangélico, mas cético quanto ao fato de que as mudanças climáticas sejam causadas por atividades humanas.
Inhofe liderou esforços para manter controles obrigatórios sobre os gases de efeito estufa, mas sem que qualquer redução de emissão tenha sido considerada por seu comitê, e conclamou que pensar que as atividades humanas contribuem para o aquecimento global é a maior mística já perpetrada contra o povo americano.
–Você sempre pode encontrar nas escrituras passagens que citem quase tudo–, afirma Inhofe, contrariando a posição de Cizik como algo muito estranho.
Inhofe diz que a grande maioria dos grupos evangélicos nacionais poderia mesmo se opor a uma legislação sobre aquecimento global como inconsistente com a agenda conservadora que inclui também oposição ao direito ao aborto e aos direitos dos gays. Segundo ele, a Associação Evangélica Nacional tem enveredado por um caminho liberal dos ambientalistas e outros que têm convencido grupos a respeito do valor de relacionar questões como pobreza e meio ambiente. (Fonte: The New York Times, 9/11)