A economia da Oca
2005-11-08
Pela primeira vez a Oca, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, fará jus a seu nome.
O espaço, que já recebeu importantes mostras internacionais, será sede da primeira
grande exposição de produtos florestais do país. O Mercado Floresta, como foi chamado,
apresenta, de 5 a 8 de novembro no Ibirapuera, em São Paulo, o mel da Amazônia e o
palmito da Mata Atlântica, entre outros produtos. – A intenção é estimular uma economia
florestal saudável, que gere renda e ajude a manter a mata de pé-, diz Roberto
Smeraldi, da ONG Amigos da Terra, organizadora do evento.
A feira, voltada para empresários, tem como objetivo aproximá-los de produtores
nativos. É a primeira a tratar do assunto sem priorizar os derivados da madeira, agora
relegados a segundo plano. Seus mais de cem expositores têm em comum um impacto mínimo
no meio ambiente. O evento surpreende ainda pela vastidão de produtos alimentícios. O
visitante prova sorvete de pequi, jacuí e jatobá. Chefs famosos vão adaptar pratos com
ingredientes raros de ecossistemas brasileiros.
Em vez de madeira, sorvete de jatobá, couro vegetal e mel da Amazônia
Além de garantir o sustento de comunidades que vivem na floresta, o manejo sustentável
contribui para sua preservação. – A gente só tira da floresta o que ela é capaz de
repor-, diz Delbanor Melo Viana, pai de dez filhos, líder de uma comunidade isolada que
vive da castanha às margens do Rio Iratapuru, no Amapá. Conhecido como Arraia, o
caboclo enfrenta mais de 3.000 quilômetros na tentativa de encontrar compradores para
a produção de mais de 25 toneladas de óleo de castanha, cujas propriedades foram
recentemente descobertas pela indústria de cosméticos. Arraia leva consigo a
expectativa de 32 famílias.
Números pouco expressivos refletem o paradoxo entre a vastidão de riquezas naturais e
sua escassa participação na economia do país. A Amazônia, que representa mais da metade
do território brasileiro, corresponde a apenas 4% do PIB e só a 8% das exportações, de
acordo com o Ministério do Meio Ambiente. Isso, apesar de possuir frutas, peixes e
produtos vegetais únicos no mundo. – Há um imenso desequilíbrio entre possuir recursos
naturais e transformá-los em ativos econômicos-, conclui Smeraldi. Uma das grandes
apostas dos organizadores é o mel amazônico. Produzido por abelhas brasileiras, é mais
viscoso que o mel vendido no sul do país, que vem de variedades africanas do inseto. –
Ele tem concentração maior de zinco e é menos calórico-, diz a nutricionista Vania
Fonseca. Cada 200 gramas podem sair do produtor por menos de R$ 6,00. Se chegarem ao
Sudeste por R$ 15, ainda assim terão condições de competir.
Independentemente do mel ou da castanha, uma economia florestal sustentável tem de se
basear em um mix de produtos, acredita Carlos Miller, representante da fundação Avina,
que financia projetos na região. – Só assim os pequenos produtores extrativistas
ficarão imunes a oscilações de mercado e de safra-, explica. (Época, 07/11)