Pingüins mostram como a mudança climática acelera a evolução
2005-11-08
Uma colônia de pingüins que se reproduzem ao mesmo tempo e em um mesmo sítio, na Antártida, por milhares de anos, possibilita aos cientistas um raro insight sobre como a mudança climática está acelerando o curso da evolução. Pesquisadores analisaram antigos fragmentos de DNA dos pingüins remanescentes que ficaram enterrados no sítio por cerca de seis mil anos e compararam-nos com o DNA de membros vivos da mesma colônia.
A comparação possibilitou uma fotografia de pequena escala das mudanças evolucionárias na seqüência genética do DNA dos pingüins, que ocorreu sem qualquer mudança óbvia na aparência ou no comportamento dos pássaros.
Cientistas liderados por David Lambert, da Universidade de Massey, em Auckland, Nova Zelândia, concluíram que houve significativas mudanças no DNA dos pingüins da colônia que provavelmente surgiram quando grandes icebergs se desprenderam dos bancos de gelo da Antártida.
Em 2001, os icebergs quase isolaram os pingüins antárticos de suas fontes de alimentação no mar aberto. Muitos deles tiveram que caminhar por milhas no gelo, ao invés de nadar para se alimentar.
O degelo dos icebergs – que podem ser do tamanho de países ingleses – pode interferir com os movimentos normais e com os padrões de reprodução dos pingüins, causando uma mudança na freqüência de seus genes, segundo afirmaram cientistas ao jornal acadêmico Proceedings da Academia Nacional de Ciências. Eles acreditam que muitos desses mega-icebergs quebraram-se nos últimos mil anos e cada um deles resultou em mudanças evolucionárias de pequenas escalas.
– Uma microrevolução está refletindo as mudanças na freqüência dos genes nas populações com o tempo–, escreveram os cientistas. –A antiga tecnologia de DNA agora provê uma oportunidade de demonstrar uma evolução sobre um período de tempo geológico e possibilita identificar fatores causais de qualquer evento evolucionário–, assinalam.
Os cientistas estudaram as espécies de Adelie – parte da costa das Terras Wilkes, no leste da Antártida. Elas se reproduzem em colônias densamente povoadas cujo tamanho varia de cerca de 200 até 170 mil indivíduos. Uma característica particular deste tipo de pingüim é que os indivíduos retornam aos mesmos ninhos ano após ano, a menos que outros fatores interfiram neste comportamento, como uma súbita aparição de um grande iceberg.
As fêmeas dos pingüins Adele geralmente colocam dois ovos a cada temporada de reprodução, mas um deles não tem resultado reprodutivo, de modo que o filhote morre dias depois estar apto para cobrir-se de penas, o que resulta em uma grande área com material semifossilizado em um clima seco e frio. Fezes, penas, fragmentos de ovos e outros pingüins permanecem, misturados com outros materiais, constituindo um slo distinto–, afirmam os cientistas.
Como os pingüins Adele mostram uma forte tendência para retornar ao mesmo sítio reprodutivo usado por sues pais, os cientistas acreditam que o DNA extraído de restos fossilizados derivam dos ancestrais diretos dos pingüins que vivem hoje na colônia. (Fonte: The Independent, 7/11)