A professora que ensina o caminho ecológico da paz
2005-11-08
Por Roberto Villar Belmonte*
A Prêmio Nobel da Paz de 2004, Wangari Maathai, criou
no Quênia um movimento de mulheres para plantar
árvores e colher a paz nas regiões onde os conflitos
humanos são agravados pela destruição ambiental.
A árvore é um símbolo de paz na África. Em diversas
comunidades, ainda sobrevive uma antiga tradição.
Quando há um conflito, a pessoa mais velha planta uma
árvore entre os dois lados em disputa. Este cerimonial
sinaliza o início da reconciliação entre as partes.
Foi esta herança cultural - ecológica e pacifista - a
inspiração para Wangari Maathai, 65 anos, iniciar no
Quênia, em 1977, o Movimento Cinturão Verde.
Educada nos Estados Unidos e na Alemanha, a professora
de anatomia animal da Universidade de Nairobi não
tirava da cabeça o que vinha testemunhando desde
criança. Árvores substituídas por lavouras comerciais,
como ocorre agora na Amazônia. O desflorestamento do
Quênia destruiu boa parte da biodiversidade e reduziu
a capacidade das florestas de conservar água, um
recurso bastante escasso na região.
Para mudar aquela situação, Wangari Maathai começou
uma campanha de esclarecimento com grupos de mulheres
mostrando que árvores deviam ser plantadas. Aos
poucos, elas foram percebendo que o plantio gerava
emprego, combustível, comida, abrigo, melhorava o solo
e ajudava a manter as reservas de água. Nas últimas
três décadas, as mulheres do Quênia plantaram mais de
30 milhões de árvores.
O trabalho de conscientização foi difícil. — O nosso
povo foi historicamente persuadido a acreditar que,
por ser pobre, também não tinha conhecimento e
capacidade para enfrentar os seus próprios problemas.
E esperavam soluções de fora. As mulheres não
conseguiam perceber que para atender às suas
necessidades básicas era preciso um meio ambiente
saudável e bem manejado-, recorda a professora Wangari
Maathai.
A sua militância pacífica pela recuperação ambiental
das florestas africanas foi reconhecida mundialmente
em dezembro de 2004 quando ela recebeu em Oslo, na
Noruega, o Prêmio Nobel da Paz. — Eu acredito que a
solução para a maioria dos nossos problemas vem de nós
mesmos-, ensina a professora e ativista Wangari
Maathai, que hoje luta para cancelar a dívida externa
dos países pobres.
A família humana, na avaliação da Prêmio Nobel da Paz
de 2004, tem que enfrentar um fato muito grave: o meio
ambiente é fundamental para alcançar a paz. Quando ele
está degradado, as pessoas sofrem, pois não têm os
recursos necessários para sobreviver. É preciso
compartilhar os recursos naturais de forma eqüitativa
para reverter a distribuição injusta de recursos que
atualmente existe no mundo.
Na África, relata Wangari, existem muitos conflitos
por recursos naturais escassos e degradados. As
pessoas lutam pelo que restou de terra, água, pastos e
florestas. Para resolver estes graves conflitos, que
estão gerando milhões de refugiados ecológicos em todo
o planeta, a professora do Quênia defende uma
consciência cada vez maior sobre três questões:
sensibilidade ambiental, um bom governo democrático e
paz.
— Nós plantamos árvores para proteger o solo, prevenir
a erosão, fazer as pessoas entenderem que a terra é um
recurso natural importante. Quando o vento e a água
produzem erosão, a terra está perdida para sempre.
Mostramos para as pessoas que o solo onde elas plantam
é fundamental para ter boas colheitas. As árvores
também são uma fonte de energia para a maioria das
populações rurais-, ressalta Wangari.
A presidente do Movimento Cinturão Verde faz uma
conta. Como cada pessoa emite gás carbônico, ela
necessitaria plantar pelo menos dez árvores para zerar
o seu impacto ecológico no planeta. — Por isso eu
sempre insisto neste ponto: plantem pelo menos dez
árvores!-, enfatiza a queniana também engajada na
campanha dos quatro erres: reduzir, reutilizar,
reciclar e reparar.
Wangari Maathai e as mulheres do Movimento Cinturão
Verde tentam banir do Quênia as sacolas de plástico
finas, pois elas não podem ser reutilizadas. No Japão,
ela está engajada em uma campanha chamada MutaiNai
para conscientizar as pessoas sobre a necessidade de
respeitar e agradecer pelos recursos naturais. Por
onde anda, a professora do Quênia dedica a sua vida à
construção de uma paz ecológica.
* Este texto foi escrito para a edição de novembro de 2005 do
Jornal Extra Classe do Sindicato dos Professores do
Rio Grande do Sul: www.sinprors.org.br/extraclasse.
Roberto Villar Belmonte participou do III Fórum
Internacional de Mídia Proteção da natureza, um
caminho de paz à convite da Associação Cultural Greenaccord.