Pesquisa da USP promete tinta sem cheiro e bem menos tóxica
2005-11-08
Depois de sete anos de pesquisas, em breve poderá chegar ao mercado uma nova tinta de parede praticamente sem cheiro (a absoluta falta de cheiro é impossível) e muito menos tóxica do que as vendidas atualmente. Esses benefícios serão possíveis por conta de um novo método para a fabricação de polímeros – que são resinas usadas em tintas – resultado de um projeto de pesquisa coordenado pelo engenheiro químico Reinaldo Giudici, professor e pesquisador da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP). A pesquisa, em fase conclusiva, está sendo realizada nos laboratórios do Departamento de Engenharia Química da Poli por encomenda de uma grande multinacional produtora de polímeros.
O projeto – Desenvolvimento de processo de polimerização para a produção de polímeros com baixo teor de monômero residual – foi financiado pela multinacional, que concedeu R$ 135 mil, e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que entrou com R$ 650 mil. No mesmo projeto, o pesquisador da Poli/USP está desenvolvendo um outro polímero, também menos tóxico e com menos cheiro, a ser aplicado em recobrimento de papel utilizado na impressão de revistas.
Polímeros nada mais são do que os conhecidos e praticamente onipresentes plásticos, como o polietileno, o poliestireno, o náilon e o poliéster. Há ainda os chamados polímeros em emulsão, que são usados em tintas e em colas, do tipo da Tenaz. Tecnicamente, os polímeros são macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores, os monômeros, nos quais predominam as moléculas de carbono. Embora possam ser extraídos da madeira, do álcool ou do carvão – todos ricos em carbono –, hoje é mais barato produzir os monômeros a partir do petróleo.
O professor Reinaldo Giudici explica que a reação química que leva à formação de polímeros é a polimerização. Por meio de substâncias químicas, inicia-se uma reação em cadeia que transforma as pequenas moléculas (os monômeros) em macromoléculas (os polímeros). —Nesse processo, sempre sobra um pouco de monômeros entre as grandes moléculas-, explica Giudici. —Por serem substâncias voláteis, os monômeros são os responsáveis pelo cheiro e pela toxicidade das tintas e outros polímeros.
Por essa razão, as grandes empresas produtoras de tintas e plásticos procuram desenvolver métodos e tecnologias de polimerização que diminuam a concentração residual de monômeros nos polímeros. —O mais comum hoje é borbulhar um gás ou vapor de água no polímero em emulsão, a fim de fazer com que os monômeros se volatizem, saiam para fora do produto-, explica Giudici. —O inconveniente é que este processo de borbulhamento gera efluentes que não podem escapar para o ambiente, pois são poluentes, e precisam ser tratados. Isso encarece o processo.
A tecnologia desenvolvida pela equipe do pesquisador da Escola Politécnica é diferente. —O que fizemos é prolongar e intensificar a reação química de polimerização, de modo que mais monômeros reajam e sejam transformados em polímeros-, diz Giudici. —Assim sobram menos monômeros no polímero. Já conseguimos atingir uma concentração de monômeros de apenas 100 partes por milhão (ppm), ou seja, 0,01%, ou 0,01 gramas de monômeros para cada 100 gramas de emulsão polimérica. Os processos mais eficientes no mercado hoje não conseguem concentrações menores do que 1.000 ppm, dez vezes maior do que a que conseguimos. — Com isso, além de reduzir o cheiro, o novo processo tornará as tintas dez vezes menos tóxicas, e os processos de fabricação gerarão menos efluentes a serem tratados-, conclui. (Com informações da Escola Politécnica da USP)