Caixa só empresta 1% do dinheiro disponível para saneamento
2005-11-07
O governo
dispõe de R$ 2,7 bilhões em recursos do FGTS para financiar obras de
saneamento este ano, mas até o último dia 20 só tinha emprestado 1,23% desse
total - R$ 33,4 milhões - por meio da Caixa Econômica Federal. O restante está retido num
emaranhado de normas técnicas, limites fixados pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN) e burocracia, que impede o governo de iniciar projetos em uma
área que ele próprio escolheu como prioridade. O Ministério das Cidades,
responsável pela área de saneamento, enfrenta a resistência da área
econômica para remover esses entraves.
Nos dois primeiros anos do governo Lula foram assinados contratos de
R$ 3,59 bilhões, desempenho que animou o setor. Mas, mantidas as restrições atuais, o setor de saneamento
teve uma bolha de crescimento em 2003 e 2004, avaliou um
grupo de trabalho criado em março para propor medidas que agilizassem o uso
dos recursos do FGTS.
O secretário nacional de
Saneamento Ambiental, Abelardo de Oliveira Filho, acha que o quadro pode
mudar. Informou que existe um
limite de crédito de R$ 700 milhões, autorizado pelo CMN, para ser
contratado ainda este ano por operadoras públicas de saneamento.
— A seleção de pedidos foi aberta
recentemente.
Segundo ele, as
novas operações de crédito, com recursos do FGTS, também serão feitas pela
Caixa.
A situação que
o País vive é paradoxal. Os
recursos do FGTS para o saneamento estão disponíveis, mas a maioria dos
operadores públicos não pode fazer novas dívidas e as regras do CMN limitam
novas contratações pela Caixa.
Em setembro, o presidente da
Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão,
apresentou estudo à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que
mostrava a existência de R$ 3,15 bilhões em recursos disponíveis (incluindo
aí os do FGTS e do Orçamento da União) para novas contratações na área de
saneamento básico e um saldo de mais de R$ 3 bilhões para obras já
contratadas.
O estudo da
CBIC propunha a flexibilização dos limites impostos pelo CMN para a Caixa
operar os recursos do FGTS. Se
isso for impossível, a entidade pedia ao governo que autorizasse outros
agentes públicos, inclusive o BNDES, a fazer operações para
saneamento.
O grupo de
trabalho do FGTS concluiu que a possibilidade de executar o orçamento de
2005 fica restrita aos operadores privados, cuja presença no setor
é pouco significativa.
Dos R$ 640 milhões disponíveis, só uma empresa solicitou crédito de
R$ 92 milhões para tratamento de resíduos
sólidos.
Atualmente, os
maiores investimentos no setor são feitos pelos próprios operadores dos
serviços de saneamento básico com recursos da cobrança de tarifas. Segundo o secretário, os operadores
investiram R$ 1,7 bilhão em 2003 e R$ 2 bilhões em 2004. Este ano, os investimentos devem
ficar em R$ 2 bilhões.
Mas isso ainda é pouco. Um estudo do Banco Mundial concluiu
que o Brasil precisaria investir R$ 8,9 bilhões por ano, por 20 anos, para
universalizar os serviços de saneamento. O Plano Plurianual de Investimento 2004/2007 prevê a
aplicação de R$ 3,3 bilhões por ano no setor, com orçamento do BNDES e do
FGTS. Mas as contratações no
BNDES não atingem R$ 500 milhões.
As dificuldades financeiras são
agravadas pela inexistência de um marco regulatório para o setor. Sem isso, é difícil que ocorram
investimentos expressivos com as parcerias público-privadas, um dos
instrumentos que podem contribuir para a universalização dos serviços. (O
Estado de S. Paulo, 04/11)