Metade Sul passa por mudanças em função de projetos florestais
2005-11-07
Um novo ciclo da economia gaúcha está sendo gestado na Metade Sul do
Estado, onde os indicadores sócio-econômicos há décadas são
desanimadores. O maior impulso para a região são os recentes anúncios
das novas unidades de produção de celulose da Votorantim e da Stora
Enso.
Daqui a 10 anos, os dois investimentos, que somam US$ 3 bilhões, terão
capacidade de injetar US$ 350 milhões por ano à receita dos municípios
de sua base florestal. Caso a Aracruz instale sua nova fábrica no
Estado, esse valor alcançará meio bilhão de dólares.
A Ageflor, entidade que reúne 57 empresas do setor e participa, com a
Universidade Federal de Santa Maria, de um amplo levantamento sobre os
impactos sociais, ambientais e econômicos da expansão, estima que o
Produto Interno Bruto (PIB) da região deverá crescer 49% nos próximos
10 anos. O faturamento do setor no Estado dará um salto. Incluindo
florestas, produção de celulose, indústria de móveis e químicos,
passaria de US$ 3,5 bilhões para R$ 10 bilhões. Em número de empregos,
de 200 mil para até 400 mil novos postos diretos.
Adalberto Alves Maia Neto, economista da Fundação de Economia e
Estatística, diz que manter uma média de 4% de expansão do PIB não
chega a ser espetacular. Não há como avaliar, por enquanto, se supre
as necessidades da Metade Sul.
Mas pode ser considerado um belo empurrão. Se a região conseguir
manter esse ritmo pela próxima década, será um desempenho bem acima do
registrado pela economia brasileira e pelo Estado, nos últimos 25 anos:
de 2,5% e 2,7% ao ano, respectivamente.
O setor florestal tem por característica multiplicar os valores
aplicados e se ajusta bem ao perfil das propriedades da Metade Sul,
diz o presidente da Ageflor, Roque Uster. O produtor, explica, poderá
agregar valor plantando florestas. É o modelo que as empresas
pretendem adotar para aumentar as florestas comerciais sem substituir
a produção tradicional do Estado. E como pretendem afastar o temor de
que o pampa vire um enorme tapete verde, com prejuízos à flora e a
fauna.
Segundo projeções da Ageflor, o novo ciclo florestal gaúcho deverá
aumentar dos atuais 360 mil hectares para até um milhão de hectares as
plantações de eucalipto, pinus e acácia, até 2015. Mais conservador,
um estudo da Aracruz estima a ampliação para 700 mil hectares.
O secretário do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais, Luis
Roberto Ponte, afirma que são necessários projetos que completem todos
os elos da cadeia produtiva do setor. A Caixa RS repassou recursos para
financiar 18,5 mil hectares de florestas, dos quais a média são 60
hectares por contrato. A maioria leva a assinatura de pequenos e médios
empreendedores, atraídos pela oportunidade de aproveitar o mercado que
deverá se abrir, com chegada de indústrias.
O Rio Grande do Sul é hoje o quinto pólo brasileiro, em área de
florestas plantadas. O maior é Minas Gerais, que planta basicamente
para abastecer o seu complexo siderúrgico. Com a expansão, os gaúchos
devem disputar o terceiro lugar com a Bahia, onde recentemente entrou
em operação a Veracel (parceria entre Aracruz e Stora Enso) e terá uma
nova unidade da Bahia Sul. Segundo avaliações do mercado, o nascente
pólo gaúcho deverá ter maior valor agregado.
Meta deve ser a diversificação das atividades
O pólo de florestamento da Metade Sul do Estado vem ao encontro a uma
sugestão que especialistas fazem em coro: diversificação. Estagnada há
décadas em torno da pecuária, da cultura do arroz e de uma indústria
de pouca expressão, a região carece de dinamismo e empreendimentos com
tecnologia avançada, avalia José Antônio Alonso, economista da Fundação
de Economia e Estatística (FEE).
- É um avanço para a região, mas não sua redenção-, ressalva.
Ainda é preciso, conforme o especialista, investir em outros setores.
Pedro Bandeira, professor da Faculdade de Economia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), completa:
- A região tem de agregar outras cadeias produtivas, a industrialização
da Região Metropolitana tem de atravessar o rio (Jacuí)-, sustenta.
Bandeira torce para que, além das fábricas de celulose, o pólo
florestal dê origem a indústrias de papel e moveleira na Metade Sul.
Processar madeira, em serrarias ou em fábricas de móveis, é uma das
estratégias previstas pelo estudo Rumos 2015, da Secretaria de
Coordenação e Planejamento. Rubens Soares de Lima, representante da
secretaria na coordenação do trabalho, explica que o plano é
adensar a cadeia produtiva, sem competir com o pólo moveleiro da
Serra devido às qualidades diversas da madeira. (ZH, 06/11)