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2005-11-04
O crescimento da área de mata ciliar desmatada na região da bacia do Xingu e a piora na qualidade da água atraíram as atenções de índios, assentados, fazendeiros, agricultores e ONGs em torno da campanha de salvamento do rio Xingu, denominada YIkatu Xingu, que significa água boa no idioma kamaiurá. Atualmente 14% das áreas de matas ciliares na bacia do Xingu no Mato Grosso já estão degradadas ou desmatadas.

As principais diretrizes do trabalho referem-se à proteção de terras indígenas, à viabilização de assentamentos, à redução do custo de recuperação das matas ciliares nas propriedades e ao estabelecimento de programas de saneamento básico na região.

A YIkatu Xingu foi criada pelo ISA (Instituto Socioambiental) e pelo Formad (Fórum Mato-grossense para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), junto com outras 29 organizações locais e nacionais.

A bacia do Xingu tem 51,1 milhões de hectares. Deste total, cerca de um terço está localizado no Mato Grosso, o equivalente a 17,7 milhões de hectares. Nesta região, existem 22.525 nascentes nas cabeceiras e 2,18 milhão de hectares de áreas de mata ciliar. Deste total, cerca de 310 mil hectares já estão degradadas ou desmatadas.

Em dez anos, o total de área desmatada na bacia do Xingu, nas diferentes formas de vegetação, praticamente dobrou: passou de 2,38 milhão de hectares para 4,48 milhões de hectares.

Desde que foi lançada em âmbito regional, em outubro do ano passado, a campanha teve como resultados a criação de uma agenda de cursos e pesquisas sobre proteção e recuperação de nascentes e matas ciliares na região pela Embrapa; a criação de um estudo apoiado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário sobre a situação sócioeconômica e ambiental da agricultura familiar na bacia do Xingu; a realização de um diagnóstico pelo Ministério das Cidades sobre a situação do saneamento básico em 14 municípios da bacia do Xingu no Mato Grosso; e a aprovação de projetos pilotos elaborados por organizações que participam da campanha.

A segunda etapa da campanha pretende agora despertar a atenção do país para o problema. De acordo com o coordenador do projeto Brasil Sustentável e Democrático, Jean-Pierre Leroy, a Amazônia é uma questão nacional. O objetivo da campanha é evitar o que os pesquisadores chamam de abraço da morte sobre a bacia do Xingu aconteça.

Os nove projetos pilotos aprovados para a região do Mato Grosso só deverão recuperar uma área equivalente a 1% do total de área desmatada. Segundo o diretor do ISA, Márcio Santilli, embora os projetos não representem ganhos de escala podem gerar maior disseminação da preocupação com a preservação da mata.

Os projetos receberão, ao longo de três anos, R$ 3 milhões de órgãos públicos.

Fatores históricos explicam em parte a deterioração da qualidade da água e das matas. Segundo Santilli, a região era tradicionalmente usada para pecuária e os problemas ambientais ganharam novas proporções com o avanço da soja na região. A ocupação desordenada por meio de assentamentos não planejados também contribuiu para que a situação piorasse.

A idéia da campanha surgiu a partir de denúncias de várias comunidades do parque indígena do Xingu de casos de intoxicação por agrotóxicos, mortandade de peixes, assoreamento e diminuição do volume de alguns rios.

Entre as medidas em andamento para recuperar a região destaca-se a capacitação de índios pela Agência Nacional de Águas para monitorar a qualidade da água no parque do Xingu. Desta forma, será possível construir uma série histórica de dados com informações sobre volume de água, sedimentação e agrotóxicos. Além disso, o Incra passou a trabalhar com assistência técnica terceirizada. (Folha Online, 03/11)

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