Surgem novos focos de incêndio na Chapada Diamantina
2005-11-04
Quatros novos focos de incêndio surgiram ontem no Parque Nacional da Chapada Diamantina quando já se acreditava que todo o fogo havia sido debelado. Os brigadistas passaram a noite e a madrugada inteira fazendo o rescaldo dos incêndios até extinguir todos os sinais de fumaça. Porém, no início da tarde, veio a má notícia: o fogo se alastrava em dois pontos no município de Ibicoara - na Serra de Ibicoara e no Baixão, na Estrada Velha do Garimpo, em Lençóis e em Andorinhas, em Mucugê. Das 9h às 14h, o helicóptero do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) percorreu todas as áreas onde havia os antigos focos de incêndio e constatou que eles de fato haviam sido debelados. Só depois do pouso veio a informação dos novos focos, que especula-se que tiveram início pouco depois das 14h.
Nesses 30 dias de incêndio, o fogo atingiu 10% dos 152 mil hectares de extensão do parque. Assim que foram comunicados os novos focos, foi iniciada a operação de combate. A expectativa da gerência do parque era de que ontem mesmo conseguissem controlar os focos de Andorinha, da Estrada Velha do Garimpo e o da Serra de Ibicoara, onde já haviam brigadas atuando. Já o situado próximo ao povoado de Baixão, uma das seis comunidades residentes dentro da área do parque, só teria início o combate quando fosse contido o outro que havia no município.
— Este é mais crítico porque já começou com o fogo médio - constatou o biólogo e analista ambiental do Ibama, Pablo Lacaze de Camargo Casella.
A temperatura média na região de 36º, aliada aos fortes ventos, torna o local propício para o surgimento de novos focos de incêndio.
— A nossa preocupação continua, porque o período crítico ainda não acabou. A Chapada Diamantina está 100% no polígono da seca, o perigo só passa quando chegar chuva em abundância. No ano passado, novembro foi o mês mais complicado - avalia a chefe do Parque Nacional da Chapada Diamantina, Iêda Marques. Diferente do ano passado, quando os primeiros focos de incêndio só surgiram na região no mês de julho, este ano os primeiros registros foram no mês passado. Embora tardio, veio em maior intensidade.
Proteção ao ecossistema do parque
Para proteger o parque que abriga espécies raras e endêmicas de orquídeas e bromélias, dezenas de homens se mobilizam no combate ao fogo. Inicialmente eram apenas o 35 contratados pelo Ibama somados à equipe do 11º Grupamento de Bombeiros Militar e aos 15 homens enviados pelo Parque Nacional de Brasília, o que totalizava entre 70 e 80 combatentes. Anteontem, foram enviados de Salvador mais 53 soldados do Corpo de Bombeiros e um helicóptero do estado para ajudar a debelar o fogo.
Quando os focos acabarem, a equipe local deverá receber equipes do Ibama de Salvador e de Brasília, que irão ajudar na perícia e investigação sobre as causas dos incêndios. Por enquanto, a criação de guardas parques ainda é um assunto em discussão, mas Iêda Marques considera que o primeiro passo foi dado com a contratação dos brigadistas.
— O processo teve início em 2001 e, desde então, no período crítico contratamos 35 brigadistas. A seleção é feita nas 12 brigadas voluntárias que existem na região - informou.
Segundo ela, é fundamental que exista um trabalho envolvendo as prefeituras dos seis municípios que abrangem o parque que foi apontado como o principal destino ecoturístico do país, o Ibama e o governo do estado, que integre propostas de monitoramento das unidades de conservação da Chapada Diamantina. Existe na região as Área de Proteção Ambiental (APAs) de Serra do Barbado, a de Marimbus, a Floresta Nacional (Flona), a Unidade de Conservação Federal de Contendas do Sincorá e os parques municipais de Mucugê, Palmeiras, Lençóis e Ibicoara.
— Todas estas unidades precisam de um monitoramento, de um acompanhamento - defende. Hoje, o assunto deverá ser debatido na reunião do conselho consultivo do parque, que acontece no Pai Inácio. O conselho, que tem como papel discutir os problemas do parque e políticas de preservação, possui 33 cadeiras ocupadas por representantes do poder público e da sociedade civil. (Correio da Bahia, 03/11)