Efeitos do corte raso de eucalipto sobre o balanço hídrico e a ciclagem de nutrientes em uma microbacia experimental
2005-11-04
Resumo: Visando fornecer informações sobre o efeito das atividades florestais sobre hidrologia de microbacias, a microbacia do Tinga, localizada na Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga - ESALQ/USP, foi instrumentada em 1991, quando teve início o trabalho de monitoramento ambiental. O objetivo foi buscar indicadores que pudessem orientar as atividades florestais, de forma a reduzir seus impactos sobre a quantidade e a qualidade da água produzida nas microbacias destinadas à produção florestal. Dando continuidade às pesquisas do projeto Microbacia Hidrográfica, da Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga, este estudo faz uma avaliação dos efeitos do corte raso do eucalipto sobre a hidrologia da microbacia. Os aspectos em estudo foram: produção de água, qualidade de água, ciclagem geoquímica de nutrientes e ciclagem biogeoquímica de nutrientes. Para obtenção dos resultados foram comparados os valores observados durante os 6 anos de calibração da microbacia aos obtidos no primeiro ano hídrico após o corte raso do eucalipto. Durante o primeiro ano após o corte raso do eucalipto foi observado um aumento no deflúvio anual de 94 mm em relação à média dos 6 anos anteriores ao corte. Este aumento correspondeu a uma alteração de 1,0 % na correlação precipitação / deflúvio.
Em termos anuais de saída de nutrientes pelo deflúvio, apenas o K apresentou perda significativamente maior após o corte raso quando comparado à média dos 6 anos anteriores. Já para os nutrientes Ca, Mg, Fe e Na as perdas anuais após o corte não foram diferentes das observadas no período anterior ao corte, embora tenham sido comparativamente maiores em alguns meses do ano após o corte. Apesar destas perdas, o balanço geoquímico anual foi positivo para 4 dos 5 elementos em estudo, sendo negativo apenas para o magnésio. Dentre os parâmetros considerados no monitoramento da qualidade da água, os mais afetados pela retirada da cobertura florestal foram a turbidez, a cor e a produção de sedimentos em suspensão. De forma geral os parâmetros físicos mostraram-se melhores indicadores das alterações causadas pelo corte raso, destacando-se a turbidez, a cor e a condutividade elétrica.
A colheita da madeira representou uma perda em kg.ha-1 de 80.0, 10.32,
68.41, 67.09 e 36.13 para N, P, K Ca e Mg, respectivamente. As folhas e o
material lenhoso não comercializável permaneceram no campo. Seu conteúdo
total de nutrientes em kg.ha1 foi o seguinte: nas folhas 44.88, 3.2, 12.82, 12.25,
e 7.69 de N, P, K, Ca e Mg, respectivamente; nos ramos e galhos 35.13, 2.52,
17.48, 17.29, 8.86 de N, P, K, Ca e Mg, respectivamente.
O balanço biogeoquímico de nutrientes na microbacia do Tinga para o
período de setembro de 1991 a agosto de 1998 mostrou uma perda em kg.ha-1
de 56.79 de K, 72.92 de Ca e 40.89 de Mg. A preservação da mata ciliar, a manutenção da serapilheira, o corte realizado de forma gradual e sem uso intenso de máquinas e a rebrota das árvores foram considerados importantes fatores responsáveis pelo baixo impacto da colheita da madeira sobre os aspectos químicos da qualidade da água e sobre a perda de nutrientes pela água do deflúvio.
instituição: Universidade de São Paulo (USP).
Autor: Carla Daniela Câmara.
Contato: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.