Novos tumultos na usina de Campos Novos
2005-11-03
Depois de 14 horas de ocupação, cerca de 300 integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens(MAB), deixaram a usina da Campos Novos de forma pacífica e sem repetir o confronto que houve com a Polícia Militar na chegada, às 5 horas e que culminou com 24 pessoas feridas. Eles reivindicavam assentamento pleno de 243 famílias supostamente atingidas pela barragem e que ainda não foram indenizadas. Os invasores aceitaram deixar a área depois que o coordenador regional da Fundação do Meio Ambiente( Fatma) de Lages, Cosme Polese, esteve no local e se comprometeu a intermediar a realização de uma nova reunião entre os atingidos e a Enercan, na semana que vem.
Num primeiro momento, os invasores disseram que só deixariam o local depois que houvesse certeza da realização de um novo encontro para discutirem a situação. No Ministério das Minas e Energia, a posição era de só marcar a reunião depois que houvesse a liberação da área, o que acabou ocorrendo sem que fosse necessário uso da força policial para cumprir a reintegração de posse concedida à Enercan pela Justiça. Na chegada dos manifestantes houve confronto com a polícia e, segundo o MAB, 22 de seus integrantes teriam ficado ferido. Além deles, os policiais militares Edson Antunes e Arlan Deon foram feridos, respectivamente na cabeça e no braço.
Segundo o major Yukio Yamaguchi, que coordenou as negociações de retirada, coquetéis molotov, barras de ferro e pedras foram lançadas contra os cinco policiais que estavam na usina no momento da invasão. A PM, segundo ele, usou bombas de gás lacrimogêneo e munição de efeito moral. O confronto durou cerca de 20 minutos, até o recuo dos policiais diante das centenas de invasores.
A situação começou a ser contornada com a chegada dos oficiais de Justiça que trouxeram os mandados, dando início às negociações de levante do acampamento. Num primeiro momento, os líderes do MAB pediram meia hora para tomar posição frente à reintegração, quando decidiram pedir a presença do coordenador da Fatma, para prosseguir as negociações.
— Provavelmente esta reunião aconteça na próxima semana e foi mediante esta promessa que eles deixaram o local - justificou o coordenador. Os invasores deixaram o local gritando palavras de ordem e reafirmando que voltam caso não sejam atendidos nas suas reivindicações.
Todos os mais invasores que ocuparam ontem a usina da Enercan dizem que foram prejudicados com a construção da barragem e reivindicam indenizações. Segundo um dos coordenadores do movimento, Valdir Vassoler, mais 246 famílias tem direito ao benefício. Ele se baseia num relatório feito pela Fatma para chegar a este número.
— Queremos que todas essas famílias sejam assentadas e que se faça justiça com elas, que foram prejudicadas pela construção da usina - justifica.
A Enercan diz que aumentou os valores da indenização e mesmo assim não teve sua proposta aceita pelos supostos atingidos.
— Oferecemos R$ 3,6 mil para cada família, que não precisava fazer nenhum tipo de comprovação e como não houve acordo subimos este valor para R$ 12 mil. Também não obtivemos sucesso - explica o diretor de obras da usina, Edeval Betiolli, que admite que podem ser adotadas novas técnicas de segurança no local. (A Notícia, 02/11)
ONGs manifestam apoio ao MAB
A Rede de ONGs da Mata Atlântica manifesta seu apoio ao Movimento dos Atingidos por Barragens que retomou segunda-feira, 1º de novembro, a área da Usina Hidrelétrica de Campos Novos, no Rio Canoas, entre os municípios de Campos Novos e Celso Ramos em Santa Catarina. Hoje mais uma vez a polícia militar catarinense investiu contra a manifestação dos agricultores atingidos. A ação resultou em 20 feridos, principalmente por balas de borracha. No dia 5 de outubro, a polícia já havia ocupado os dois acampamentos dos agricultores destruindo completamente um deles.
Para a coordenadora geral da RMA, Miriam Prochnow, ao invés de atos de violência o que deveria estar acontecendo são ações de fato para solucionar os problemas sociais e ambientais decorrentes da obra. É inadmissível que a cada dia este tipo de situação se repita.(RMA, 1/11)