Rotulagem de OGM não sai do papel
2005-11-03
Passados um ano e oito meses da entrada em vigor da legislação federal que determina a
rotulagem de produtos que possuírem acima de 1% de ingredientes transgênicos em sua
composição, o direito do consumidor gaúcho à informação ainda é ficção. O Instituto de
Defesa do Consumidor (Idec) denuncia que não há registro de nenhum produto rotulado
como transgênico no país.
A obrigatoriedade, regulamentada pelo decreto nº 4.680, de 24 de abril de 2003, prevê
inclusive a fixação de um triângulo amarelo de identificação nas embalagens ou
recipientes. De acordo com o advogado do Idec Paulo Pacini, a indústria comete um
crime previsto no artigo 66 do Código de Defesa do Consumidor. – A rotulagem existe
pelo risco e pelo direito de opção-, disse.
Segundo a coordenadora de Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace, Gabriela
Couto, as indústrias agem livremente pela falta de fiscalização. No mês passado, o
Greenpeace denunciou duas multinacionais e entrou com pedido, já aprovado pela Comissão
de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, para que o Poder Executivo seja chamado a dar
explicações. Pelo decreto, a Anvisa e as Vigilâncias Sanitárias Estaduais deveriam
fiscalizar os alimentos, o que nunca ocorre, na prática. No Rio Grande do Sul, como no
resto do país, as empresas têm liberdade total. Segundo a veterinária Suzete Lobo Saar
de Almeida, da Vigilância Sanitária no RS, não há fiscalização sistemática nem
programa de coleta de amostras para comprovação de percentuais de transgenia acima do
permitido por lei no Estado.
Para o vice-presidente do Sindicato do Sindicato das Indústrias da Alimentação do
Estado do Rio Grande do Sul, Marcos Oderich, não há descumprimento da legislação no
Estado. – O que está acontecendo é que os produtos não atingem o percentual mínimo de
transgenia estabelecido por lei.- Ele admite, entretanto, que muitas empresas não têm
recursos para realizar as análises de matérias-primas, como deveriam. – Criam-se leis
que são bonitas, mas inexeqüíveis-, conclui.
Pressão pode derrubar decreto
O Greenpeace está preocupado com a pressão das indústrias junto à Casa Civil para
derrubar o decreto. Segundo Gabriel Couto, os grupos estão mobilizados pela anulação
da legislação. Mas o movimento pode esbarrar numa ofensiva do Idec, que aguarda o
julgamento em primeira instância, na Justiça Federal de Brasília, de uma ação civil
pública pedindo que a rotulagem seja ampliada para todo o alimento que contenha
transgênico, independente da concentração. Conforme Paulo Pacini, um estudo
preocupante, feito em 20 amostras em São Paulo, revelou que 11 continham transgênicos
embora nada constasse nos rótulos.
O Idec desconsidera a justificativa das indústrias de que seus produtos têm índice
abaixo do determinado no decreto federal. Pacini lembra que o artigo 31 do Código de
Defesa do Consumidor determina que fornecedores assegurem informações corretas, claras,
precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidade,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem.
Nos setores de ração animal e produto in natura, o Ministério da Agricultura (Mapa)
garante que as regras são cumpridas, mas o chefe do Serviço de Fiscalização
Agropecuária do Mapa/RS, Mauro Ruggiro, reconhece que há apenas cinco fiscais para
controlar todo o Estado. (CP, 03/11)