Carros a hidrogênio chegam em nova geração
2005-11-03
Ninguém poderia adivinhar que Jon Spallino, um executivo da indústria da construção que mora nos Estados Unidos, estaria dirigindo um dos mais caros modelos já fabricados, nem que ele é um dos viajantes mais avançados tecnologicamente. O Honda FCX que Spallino aluga por US$ 500 mensais supre suas necessidades de hidrogênio a partir de uma estação localizada perto da sede da Honda American, em Torrance, na Califórnia.
Jon e Sandy Spallino, com as filhas Anna e Adrianna, já testaram o modelo na Interestadual 405, rodovia que permite um caminho entre seu escritório, em Irvine, e sua casa, em Redondo Beach. Ao custo de aproximadamente US$ 1 milhão para a compra, o FCX é alimentado por células de hidrogênio, a tecnologia futurística que muitos fabricantes de carros vêem como eventual solução para a crise energética – um debate hoje instalado dentro e fora da indústria de carros.
Spallino, de 40 anos, passou a alugar o Honda FCX em julho, fazendo uma das experiências mais insólitas da história da indústria de automóveis no mundo. A Honda chegou a fazer um acordo com o distribuidor de hidrogênio que fica perto da casa dos Spallino, a fim de que possibilite o fornecimento normal, pois o Departamento de Incêndios local não permite o estoque do hidrogênio em casas, por risco de acidentes.
A Honda está agora trabalhando na melhoria da estação existente perto do escritório de Spallino, e a Califórnia está financiando o reabastecimento de estações para formar o que se chama de a supervia do hidrogênio em todo o Estado. A empresa é pioneira em trazer para os consumidores estas tecnologias avançadas, como carros híbridos elétricos. Enquanto outros grandes fabricantes de carros têm se dedicado a construir protótipos de célula a hidrogênio, a Honda é a única que tem ido além de testes.
A escolha da Honda pela família Spallino ocorreu porque o Sr. Spallino já foi um dos poucos donos de um Civic movido a gás natural. Mas o fato é que reabastecer um Civic a gás, pelo menos por enquanto, parece ser bem mais simples do que fazer o mesmo com um FCX a hidrogênio. E é isto que a Honda quer testar: até que ponto as pessoas se estressariam com a mudança da tecnologia.
–Eu uso o FCX diariamente, para ir ao mercado, levar as meninas na escola, buscá-las no esporte –, afirma Spallino, que também dirige um Ford Taurus.
Ben Knight, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da Honda, afirma que o retorno desses consumidores será de muita perspicácia, acrescentando que um consumidor que paga de seu próprio bolso por um veículo será muito consciente do valor que recebe, e das limitações do veículo.
As células de combustível, na realidade, não são uma invenção recente, pois surgiram lá por 1800. Foram depois usadas para prover energia interna à aeronave espacial Apollo, bem como para fornecer água potável para os astronautas. Carros movidos com células de combustível são carros elétricos que funcionam não apenas com baterias, mas com geração de sua própria eletricidade. Células de combustível combinam hidrogênio e oxigênio do ar numa reação química, gerando vapor de água como sua única emissão, pelo menos no cano da descarga.
O problema da tecnologia ainda são os preços. –Estamos levando muito tempo ou nunca faremos–, disse Joseph J. Romm, assistente da Secretaria de Energia do governo do ex-presidente Clinton, referindo-se à probabilidade de as células a combustível suplantarem a combustão interna de motores em carros. Embora Romm tenha batalhado pelo financiamento das tecnologias de célula combustível na metade dos anos 90, desde então ele tem sido cético com respeito às perspectivas delas no mercado, ao ponto de, no ano passado, ter chegado a publicar o livro O Exagero Sobre o Hidrogênio (Fonte: The New York Times, 2/11)