Uma invasão diferente às margens do Vacacaí
2005-11-03
A poucos quilômetros da invasão do Cerrito, um aglomerado de casas chama a atenção de quem passa na BR-392, logo depois da Ponte do Verde, já em São Sepé. Uma invasão mais chique , sem bandeiras de movimento social, ocupa uma área às margens do Rio Vacacaí há cerca de seis anos. São 40 famílias - a maioria aposentados - morando em casas que em nada lembram os barracos de lona do Cerrito.
Perto do rio, há sobrados construídos em madeira ou tijolo. Ao contrário dos invasores tradicionais, a busca de terra para construir uma casa não é a motivação para o grupo. Tudo que eles querem é tranqüilidade, bem longe do agito da cidade. Para os aposentados, a invasão serve como uma espécie de parque de veraneio, já que a maioria deles não se desfez das casas que possuem na cidade.
- Esse é o nosso paraíso. Aqui vivemos em paz, sem os problemas da cidade -, diz o aposentado Antônio Carlos Perancone, 51 anos, que há três ergueu uma casa no local.
Perancone chegou às margens do Vacacaí por convite de um amigo. Ele e a mulher, que moravam na Vila Medianeira, em Santa Maria, mudaram para a invasão. Lá, o casal planta hortaliças, cria galinhas e pesca no Rio Vacacaí os peixes para a alimentação.
Assim como o casal, a maioria dos aposentados que está na invasão veio de Santa Maria, onde mantém suas casas. Mas há também gente de Porto Alegre, que se aglomera em uma vila que só se parece com invasão por alguns detalhes, como ser uma área sem luz instalada nem água encanada.
Falta de luz é a única reclamação
A falta de luz é a maior reclamação da pensionista Terezinha de Jesus Machado, 75 anos. Há três meses, ela vendeu a casa que tinha em Porto Alegre e foi para a invasão, onde já estavam seus irmãos. Terezinha lava roupas com a água do Vacacaí. Sem luz, as duas máquinas de lavar não têm utilidade. A televisão também é só enfeite na casa. Para desespero da pensionista que queria assistir ao final da novela América.
- Eu li no jornal que o Tião está muito mal. Queria tanto assistir ao final da novela. É uma tristeza sem luz aqui -, diz a aposentada, que chegou a chorar diante da televisão.
O aposentado Claudiomiro Machado, 68 anos, é um dos três invasores que comprou um gerador de energia. Os demais usam luz de lampião quando o sol vai embora.
Área no Verde é de proteção permanente
Apesar de a invasão ter cerca de seis anos, apenas agora os moradores ficaram conhecidos pela prefeitura de São Sepé. Na semana passada, quando souberam que casas da zona rural estavam ganhando energia, eles foram buscar ajuda para também ter luz.
Segundo o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de São Sepé, Paulo Vargas, a área na beira do rio não poderia ser ocupada, pois é de preservação permanente. A prefeitura também não sabe quem é o dono da área. Sem autorização dos proprietários, a prefeitura diz que não pode instalar a luz.
A Fundação de Proteção Ambiental (Fepam) afirma que tem conhecimento de que a invasão é irregular. Mas, segundo o engenheiro da Fepam, Washington Lencina, a retirada não foi exigida porque esse é apenas um dos problemas da região:
- Teríamos de tirar todos que têm casa no Verde. Tudo é área de proteção ambiental. (Diário de Santa Maria, 02/11)