Canoeiros remam em defesa do Rio São Francisco
2005-11-01
A degradação ambiental na bacia do Rio São Francisco está sendo verificada de perto pelos canoeiros Lucas Conduru Davids, Luiz Henrique Bethônico Aragão e Phelippe Ribeiro Oliveira, que percorrem o Rio a remo. O trio chega, hoje, a Manga – de 21,9 mil habitantes, a 721 quilômetros de Belo Horizonte, Norte de Minas – depois de remar por quase mil quilômetros. A meta da expedição é atravessar aproximadamente 2,5 mil quilômetros de Rio, até a foz Velho Chico, no Oceano Atlântico, entre Sergipe e Alagoas, onde a chegada está prevista para dia 30 de novembro.
A viagem foi iniciada no primeiro dia de outubro, no Rio Paraúnas – região da Serra do Cipó –, no município de Santana do Riacho, de 3,7 mil habitantes, a 129 quilômetros de BH, na região central. Os canoeiros percorreram 100 quilômetros do Rio Paraúnas até encontrar o Rio das Velhas, próximo às cidades de Curvelo e Gouvêa.
Foram percorridos mais 600 quilômetros até o ponto em que o Rio das Velhas deságua no São Francisco, em Barra do Guacuí, próximo a Pirapora. No final de semana, o grupo chegou a Januária, depois de passar por outras cidades do Norte de Minas, banhadas pelo Velho Chico, como Ibiaí e São Francisco.
Os três rapazes usam um tipo especial de canoa com 4,6 metros de cumprimento e 90 centímetros de largura. A embarcação - conhecida como canoa canadense - é feita de plástico polietileno, material mais resistente, também usado para a fabricação de caiaques.
De acordo com o estudante de turismo, Lucas Conduru Davids, a expedição tem um primeiro objetivo de fazer manifestação contra a transposição das águas do Rio São Francisco e a favor da revitalização. Outra proposta é promover a educação e a consciência dos moradores, por intermédio de palestras nas comunidades ribeirinhas, principalmente para alunos de escolas públicas de primeira a quarta séries.
— Pedimos para que as pessoas mantenham as águas limpas, a fim de que seja garantida a existência da vida do Rio e que a gente possa continuar navegando - diz Lucas. Eles estiveram na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em São Francisco, para falar sobre a importância da preservação ambiental para alunos do curso de história.
O estudante de turismo afirma que durante o trajeto percorrido até agora já foi possível observar o quanto a bacia está degradada. No Rio das Velhas, o grupo constatou muita sujeira e assoreamento. Outro problema verificado – tanto no Rio das Velhas como no Velho Chico – é a mortandade de peixes.
— Em toda cidade que a gente passa, ouvimos comentários das pessoas de que os peixes estão morrendo - informa Lucas Davids. Ele lembra ainda que o assoreamento no São Francisco é tão elevado, que, mesmo usando canoas, o grupo vem enfrentando dificuldades com os bancos de areia no meio do Rio.
O empresário e instrutor de rathing (canoagem em corredeiras) Luiz Henrique Bethônico atravessa o Velho Chico, a remo, pela segunda vez. Ele fez viagem semelhante em 1998. Sete anos depois, ele afirma que a degradação aumentou.
— As águas do Rio São Francisco estão mais sujas. Além disso, o rio está mais raso - observa. Ele afirma que também verificou a poluição do Rio das Velhas continua em nível elevado, apesar das medidas adotadas pelo Projeto Manuelzão. — Assim como o São Francisco, o Rio das Velhas sofre sérios danos causados pelo desmatamento, impulsionado para a produção de carvão vegetal - disse.
A viagem
Os três canoeiros viajam em torno de 60 a 70 quilômetros por dia. — Mas, teve dia que só deu para remar 20 quilômetros por causa do vento contra e do sol forte - revela Lucas. Segundo ele, o grupo rema pela manhã – das seis até 11 ou 12 horas, até a parada para o almoço. Retorna às águas às 15h, tocando o remo até às 19h.
Um detalhe curioso é que o grupo não está parando durante a noite. Eles dormem dentro das próprias canoas.
— Cada um de nós dorme e deixa a canoa continuar descendo o rio, à deriva - explica o expedicionista. Esse sistema proporciona algumas surpresas. — Às vezes, acordamos com a canoa parada por causa de um galho de árvore ou um banco de areia - relata. O trio se alimenta com mantimentos como macarrão, arroz e farinha, transportados nas canoas. Também se alimenta de frutas e verduras, solicitados junto aos agricultores das margens do rio. (Estado de Minas, 31/10)