Argentina e Uruguai tentam amenizar conflito ligado a fábricas
2005-11-01
Os governos da Argentina e Uruguai tentaram baixar ontem (31/10) o tom do conflito envolvendo a construção de duas fábricas de papel em território uruguaio, após a intervenção de seus respectivos embaixadores. Diplomatas de ambos os países mantiveram contatos para encontrar uma saída para a crise provocada pela decisão do Uruguai de convocar no domingo seu embaixador em Buenos Aires como sinal de desaprovação às declarações do governador da província argentina de Entre Ríos, Jorge Busti, em rejeição às fábricas.
Busti disse que houve incentivos do Uruguai para que a espanhola ENCE e a finlandesa Botnia decidissem instalar as fábricas no país, com investimentos milionários.
As partes decidiram evitar novas declarações polêmicas que agravassem ainda mais o mal-estar.
Segundo fontes do governo argentino, em nenhum momento foi abalado o bom relacionamento entre ambos os chefes de Estado, Néstor Kirchner, da Argentina, e Tabaré Vázquez, do Uruguai. A Chancelaria argentina, que no domingo (30/10) também convocou seu embaixador em Montevidéu, ressaltou hoje que o governo de Buenos Aires –está plenamente convencido de que as autoridades uruguaias não agem motivadas por nenhum outro motivo que não seja o de sua interpretação da melhor defesa de seus interesses nacionais–.
Por meio de um comunicado, o governo afirmou que –até o momento– os interesses uruguaios se –contradizem– com os do governo argentino e os da província de Entre Ríos, cujo território, sobre o rio Uruguai, faz fronteira com a cidade uruguaia de Fray Bentos, onde estão sendo construídas as fábricas.
A chancelaria reiterou a –firme decisão– de dar prosseguimento a –todas as ações e recursos necessários– para proteger o meio ambiente no rio Uruguai –dentro do rígido e mais amplo marco que lhe outorgam os acordos bilaterais e o direito internacional–.
O comunicado afirma o desejo de que a controvérsia –não continue sendo utilizada por setores interessados em agravar a situação do Governo e do povo argentino, com intenções e atitudes que contradizem seu compromisso estratégico com o processo de integração regional, em particular a decisão de aprofundar seu histórica relação fraternal– com o Uruguai.
A nota pediu ainda às autoridades uruguaias que –acelerem o fornecimento das informações– necessárias para o trabalho da comissão técnica bilateral criada para avaliar o impacto ambiental das fábricas de papel.
Além disso, o governo Kirchner congratulou Vázquez pelo aniversário de um ano de sua –histórica vitória eleitoral–, que abriu a possibilidade para que argentinos e uruguaios possam –lutar juntos por um desenvolvimento ambiental sustentável e um crescimento com justiça social–.
O chanceler uruguaio, Reinaldo Gargano, disse hoje que as declarações de Busti são –inéditas–, e manifestou sua esperança de que –o Governo argentino rechace os ataques a todo o sistema político uruguaio–.
Jorge Busti assegurou hoje que a interpretação dada pelo Governo uruguaio a suas declarações foi –absolutamente equivocada– e reiterou que a decisão de convocar o embaixador em Buenos Aires foi –totalmente desproporcional–.
O governador de Entre Ríos disse às rádios locais que já havia explicado o –mal-entendido– ao chanceler argentino, Rafael Bielsa, que considerou as explicações –satisfatórias–.
O governante esclareceu que, quando se referiu a –incentivos– para a instalação das fábricas em Fray Bentos, se referiu ao –grande incentivo econômico– que representa para o Uruguai esse projeto, que trará ao país investimentos de cerca de US$ 1,8 bilhões.
–Não mexi com a honra de nenhuma pessoa. Se querem me empurrar a culpa, no sentido que eu ofendi a alguém, esclareço que não ofendi a ninguém–, ressaltou Busti.
A construção das fábricas deu origem a várias marchas de protesto organizadas por habitantes e ecologistas da cidade argentina de Gualeguaychú e da uruguaia de Fray Bentos. (EFE, 1º/11)