Protocolo de Kyoto, uma oportunidade para o eucalipto brasileiro
2005-11-01
Um grupo francês cultiva milhares de hectares de eucalipto no estado de Minas Gerais para produzir carvão, em um inovador modelo que procura aproveitar as vantagens da energia limpa e o Protocolo de Kyoto.
O eucalipto é transformado em carvão e usado nos fornos da própria usina siderúrgica do grupo multinacional francês V&M, a fim de obter ferro fundido, passo prévio à obtenção do aço.
— Trabalhar com o meio ambiente dá lucro - afirmou Antonio Claret, superintendente geral de V&M Florestal, filial do grupo francês Vallourec & Mannesmann Tubes, a um grupo de jornalistas.
O consumo de carvão vegetal ou coque mineral é alto no Brasil, sexto produtor mundial de aço.
V&M do Brasil assinala que é a única fabricante mundial de canos de aço que usa seu próprio carvão vegetal, em um ciclo fechado que se auto-alimenta.
Desta forma procura créditos internacionais de certificados de carbono de substituição energética, para tornar este modelo viável financeiramente a longo prazo.
— Isto é uma revolução na indústria siderúrgica do mundo, que pode deixar de usar carvão mineral, coque, e usar o vegetal - afirmou o representante de V&M, Guilherme Dias.
Por cada tonelada de aço produzido com coque mineral são despachadas para a atmosfera cinco toneladas de CO2.
Sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo de Kyoto, V&M já assinou cartas de intenção para acesso aos fundos ambientais manuseados pelo Banco Mundial.
Nesse sentido, busca tirar proveito com Toyota do Japão dos certificados de créditos de carbono negociados nas bolsas de valores internacionais.
Os certificados são comprados por países ricos, que compensam assim suas limitações para reduzir suas próprias emissões de gases de efeito estufa.
Em 2006, V&M apresentará uma proposta mais ambiciosa perante o banco. — Este é o primeiro projeto do setor siderúrgico no mundo e abrirá caminho para outras siderúrgicas - afirmou Dias.
V&M é uma as principais fabricantes mundiais de canos sem costura, usados na indústria petrolífera.
Atende, além disso, 20% da demanda nacional e exporta 30% de sua produção, de cerca de 470.000 toneladas ao ano.
Suas extensões de eucalipto no Brasil ocupam aproximadamente 235.000 hectares no estado de Minas Gerais, nos arredores do município de Curvelo, perto de Belo Horizonte.
Segundo V&M, o eucalipto é uma opção viável para evitar a queima de florestas, substitui a energia fóssil por outra renovável e retira dióxido de carbono da atmosfera.
A empresa siderúrgica preserva corredores de rica vegetação, que vai rapidamente desaparecendo da planície central do Brasil sob a pressão da indústria florestal, a pecuária e o cultivo de soja.
Assim, o cultivo de eucalipto prospera no Brasil pelas mãos de capitais nacionais e internacionais dedicados à indústria da celulose e do papel.
As plantações florestais cobrem hoje cinco milhões de hectares no território brasileiro, contra os 50 milhões de hectares do cultivo de grãos e os 150 milhões de hectares de criação de gado.
Se o uso de carvão vegetal se expande na indústria siderúrgica, nos próximos dez anos seria preciso triplicar a área de cultivos até alcançar os quinze milhões de hectares, ou 1,5% do território do Brasil, segundo os cálculos de V&M.
— Queremos consolidar a opção do carvão vegetal. Nossos canos têm uma base de energia renovável - por isso buscamos esse reconhecimento internacional, afirmou Dias.
Os executivos de V&M explicam que toda a fumaça gerada na queima do eucalipto para produzir 284.000 toneladas anuais de carvão é condensada e transformada em alcatrão, destinado à geração elétrica na siderúrgica de Belo Horizonte.
Por cada tubo verde produzido são eliminados 1.800 quilos de CO2, consumidos pelos eucaliptos durante seus anos de crescimento, antes de serem transformados em carvão, agregaram os executivos.
Para os grupos ambientalistas, esta equação não é tão simples, pois o uso de maquinarias para cultivar esta espécie e o transporte da produção já entranha a queima de combustíveis fósseis, que anulariam amplamente as toneladas de CO2 retiradas pelas plantações.
Com este e outros argumentos ambientais e sociais, grupos como o Movimento Contra o Deserto Verde protestaram contra a intenção de empresas como V&M de receber subsídios do Banco Mundial. (Yahoo Brasil Notícias, 31/10)