Número de pontos impróprios para banho em Santa Catarina não diminui há três anos
2005-10-31
O monitoramento da qualidade da água do mar começa a ser intensificado no mês de novembro em Santa Catarina, para que, em dezembro, os relatórios de balneabilidade sejam divulgados semanalmente. Dos 182 pontos pesquisados no Litoral, 35 estavam impróprios em setembro. O balanço da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Fatma) é de que não houve melhora nos últimos três anos.
A pesquisa analisa as águas de cada balneário e determina se estão próprias ou impróprias para o banho. Isto é, se estão contaminadas ou não com esgoto doméstico. A contaminação é verificada pela contagem da bactéria Escherichia coli, presente nas fezes de animais e do homem.
— Estamos elaborando um gráfico comparativo desde 2003, mas posso adiantar que não houve uma melhora significativa. Temos localidades onde a qualidade da água melhorou, como em Balneário Camboriú, apesar de não ser a ideal; e o lado negativo foi constatado na temporada passada, quando Itapema teve vários pontos impróprios - explica a gerente de análise da qualidade ambiental da Fatma, Eliana Inês Andrade.
Placas são retiradas com freqüência
A coleta é feita por técnicos a um metro de profundidade, na quantidade de 250 mililitros em cada ponto. O material coletado é submetido a exames bacteriológicos durante 24 horas. São necessárias cinco semanas consecutivas de coleta para se obter um resultado tecnicamente confiável.
Quando o resultado é impróprio, indica que há o risco de contaminação, e não necessariamente a contaminação. A água poluída pode causar gastroenterite, verminoses, doenças de pele e até problemas graves como hepatite e cólera.
— A primeira ação é comunicar a vigilância, que identifica o responsável pela poluição. Depois, deveriam ser construídas estações de tratamento de esgoto pelas prefeituras e feito o tratamento pela Casan. Por isso, temos parceria com o Ministério Público, que toma providências - diz Eliana.
No Verão, são 15 flagrantes de esgoto clandestino por dia em Floripa
A Vigilância Sanitária é o órgão público responsável pela fiscalização das ligações clandestinas de esgoto em Florianópolis. Durante a temporada de Verão, a vigilância chega a identificar 15 irregularidades por dia.
Segundo o responsável pelo meio ambiente, Realdo Cardoso, as notificações variam de um salário mínimo (R$ 300) a 10 mil Ufirs (R$ 12 mil).
Entre os meses de abril e outubro há uma média de 10 infrações por semana. Quando a fiscalização é intensificada, e as casas de veraneio ocupadas, aparece um universo de redes clandestinas. É quando a vigilância faz a lacração das redes e a notificação do infrator. O valor da notificação depende da gravidade da agressão ao meio ambiente.
— Levamos em conta os estragos à natureza e o poder aquisitivo do infrator. Mas a orientação da atual administração é manter um trabalho educativo e notificar só os casos mais graves - explica o fiscal.
A equipe da vigilância conta com 14 fiscais e 10 funcionários operacionais. Cardoso explica que o número de fiscais é suficiente, em relação há alguns anos, quando trabalhava sozinho. A região mais problemática, de acordo com o fiscal, é a do Norte da Ilha.
A estratégia para identificar casos irregulares é simples: um líquido azul é despejado na pia e descarga de uma residência ou comércio; o líquido então é rastreado quando sai. Se identificada na rede pluvial, é sinal de irregularidade.
Falta sistema para tratar toda a sujeira em Barra Velha
— Desde criança ia pescar na lagoa, que tinha uma água bem azul e reunia muito mais veranistas do que a praia. Hoje, não tenho coragem nem de molhar o pé na água - relata o pescador Manoel Hein, 40 anos, sobre um dos pontos com saídas de esgoto mais evidentes em pleno Centro de Barra Velha, no Litoral Norte.
Sem sistema de tratamento de esgoto, a lagoa recebe efluentes domésticos desde o Bairro São Cristóvão, do outro lado da BR-101. O ex-pescador Lourenço Severo de Oliveira, 54, que há 11 anos trabalha como zelador em um prédio à beira-mar, na Praia Central, não se conforma.
O rio que ele via correr ao lado do prédio onde trabalha tinha a mesma cor clara do mar. Hoje, está aterrado, e a cor da água não lembra a imagem da juventude.
— Aqui está sempre impróprio para banho e os turistas que ficam hospedados no prédio têm de caminhar longe para fugir da sujeira - diz o zelador.
O prefeito de Barra Velha, Valter Zimmermann, admite que há esses dois pontos problemáticos na praia do município (na lagoa e Praia Central), e tenta resolvê-los.
O saneamento está a cargo da Casan, que não tem rede de coleta e tratamento de esgoto. Segundo o prefeito, metade das residências possui sistemas de fossa séptica e tratam, de alguma forma, os efluentes domésticos ao invés de jogá-los nos rios que chegam ao mar.
O problema, no entanto, se agrava na temporada. Com população fixa de 18 mil pessoas, a cidade chega a ter 60 mil no Verão.
As saídas de esgoto descobertas são lacradas. Há um projeto para canalização da água em torno da lagoa para evitar a chegada de esgoto, mas a execução depende de verbas que ainda estão sendo buscadas. Não há previsão de recursos para a obra no orçamento do próximo ano ainda. -
Rincão tenta baixar total de impróprios
Desde a temporada passada, quando a Fatma apontou cinco pontos impróprios, a subprefeitura do Balneário Rincão, em Içara, Sul do Estado, tem tomado providências para reduzir a poluição na praia.
Durante o Inverno, a subprefeitura trabalhou com a Vigilância Sanitária no combate aos esgotos clandestinos e na fiscalização de irregularidades.
De acordo com o subprefeito, Jorge Rodrigues, a principal ação tem sido o processo de desapropriação da Lagoa do Jacaré, a menos de um quilômetro da orla. No local, diz Rodrigues, há 70 casas, e animais como cavalos e cachorros, o que não é apropriado.
— Despoluir o arroio é difícil. A Lagoa do Jacaré desemboca no arroio da praia, o local mais poluído. Até o ano que vem vamos tirar essas famílias de lá. Já temos um projeto, apenas aguardamos a regularização de um terreno próximo dali para fazer a transferência. No Verão de 2007 queremos esse problema reduzido.
A expectativa é que a Praia do Rincão tenha apenas um local impróprio para banho.
(Diário Catarinense, 30/10)