Líder pecuarista defende zoneamento da Amazônia
2005-10-31
Se São Paulo e Minas acabaram com as florestas, há 300 anos, para construir a economia que representam hoje, por que o Pará não pode desmatar suas terras, para criar gado e plantar grãos? O presidente do Sindicato Rural de Redenção, Luciano Guedes, argumenta com o passado dos bandeirantes para justificar a derrubada de árvores seculares para tornar rentáveis milhares de hectares transformados em pastos e plantações de soja. Mineiro de Teófilo Otoni, onde a família tinha fazenda, Guedes se considera um pioneiro. Chegou ao sul do Pará há 18 anos, após se formar em Veterinária em Belo Horizonte e fazer mestrado em economia rural na Universidade Federal de Viçosa.
— Vendi as terras que herdei para investir aqui, na década de 80, atendendo ao apelo do governo, que, em defesa da Amazônia, insistia no lema integrar para não entregar, eu e dezenas de empresários do Sul.
Dono de duas fazendas, Guedes engorda bois e toca projetos de reflorestamento, cobrindo de eucalipto e teca o vazio deixado pela derrubada das árvores.
— Por que sou considerado um depredador, se estou ajudando a construir o Pará, como fizeram os desbravadores de outras regiões? Países desenvolvidos criaram um conceito de defesa de meio ambiente na base do achismo, em vez de recorrer à ciência em busca de uma solução equilibrada.
A receita, afirma ele, em nome de sua classe, seria fazer um zoneamento econômico, ecológico e social da Amazônia para estabelecer como, onde, quando e por que explorar a terra, para transformar as riquezas naturais em fonte de renda. Isso inclui a extração de madeira e de minérios, o reflorestamento, novas lavouras e a pecuária.
— Se o governo gasta R$ 500 milhões para realizar um referendo (sobre proibição de armas de fogo) de resultado previsto, por que não investe R$ 50 milhões, dez vezes menos, para a Embrapa fazer o zoneamento?
Para Guedes, a reserva legal de 80% das florestas, que devem permanecer intactas, com a liberação de 20% das terras para agricultura e pastagens, não tem fundamento científico.
— O Ministério do Meio Ambiente estabeleceu essa porcentagem por pressão de organizações internacionais que não defendem o interesse nacional. Não aceitamos a idéia de deixar de lado um potencial enorme de recursos naturais com um povo pobre - disse.
O desmatamento no extremo sul do Pará vem de 30 a 40 anos atrás, quando empresários, bancos e multinacionais investiram em projetos agropecuários na região, atraídos por incentivos fiscais da antiga Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). É dessa época a maioria das áreas ocupadas hoje pelo gado – um rebanho de 18,5 milhões de cabeças num Estado de cerca de 6,5 milhões de habitantes. Isso dá três bois para cada paraense; no Brasil, a proporção não chega a um boi por habitante.
Oito frigoríficos abatem 4.500 cabeças por dia, num raio de 200 quilômetros, na área de Redenção.
— No município, o abate varia entre 800 e mil cabeças - informa o pecuarista. A carne do gado (nelore e redangus) sai desossada para o Nordeste (60%) e o centro-sul (40%).
— Em novembro, teremos a inspeção para conseguir exportar - contou. O gado paraense, que segundo ele tem qualidade e competitividade, está em área de risco de febre aftosa.
Ao defender o zoneamento, os empresários rurais apostam na preservação racional da Amazônia, afirma Guedes.
— Sou pai de um filho que um dia também será proprietário rural. Acha que vou destruir a terra que vai ficar para ele? (O Estado de S. Paulo, 30/10)