Monocultura: opiniões diversas qualificam encontro promovido pelo NAT
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2005-10-28
Por Carlos Matsubara
A presença de opiniões distintas qualificou o I Seminário: Os impactos da expansão das áreas com monoculturas de árvores no RS , promovido ontem (27/10) pelo Núcleo Amigos da Terra (NAT), em Porto Alegre.
Floriano Isolan, consultor do Proflora da CaixaRS, foi de longe o mais polêmico do dia. Começou sua palestra afirmando que o desafio da pesquisa hoje, é gerar recursos que estão se esgotando no planeta. — Saímos da Era do Fazer para a Era do Saber-, uma leve crítica ao movimento ambientalista atual. Como exemplo, citou Carlos Dayrel, um estudante de engenharia da UFRGS que, trepado numa árvore, impediu a sua derrubada na década de 1970. — Na faculdade, todo mundo fazia, e hoje é a época do conhecimento-, disse.
Sobre a monocultura, Isolan argumentou que, dos oito milhões de hectares plantados no Rio Grande do Sul, nenhum é de cultura nativa. — São campos de soja, arroz e feijão. Sem isso, o que comeríamos, pitanga?-, provocou, sob vaias da platéia, crítica em sua maioria aos projetos florestais em andamento no Estado.
O momento mais conflitante ainda estava por vir. Quando questionado por que algumas unidades de conservação estão sob cuidados da iniciativa privada ou de profissionais de fora do país, Isolan provocou indignação. — Acredito que profissionais de fora são mais capacitados, até porque os professores daqui não viajam para o exterior-., sentenciou sem ninguém entender bem o que quis dizer.
Igualmente favorável ao plantio de eucaliptos, porém bem mais tranqüilo, o engenheiro florestal da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Solon Jonas Longhi, destacou as exigências legais e ambientais que são impostas ao produtor que deseja plantar eucalipto em suas terras. — Atendidas essas premissas sou completamente favorável-, afirmou. Longhi deixou claro que essa não é uma posição oficial do curso de Engenharia Florestal da UFSM. — Há quem seja contrário também. Não existe um pensamento único lá-, completou.
Mesmo que, no futuro, haja um milhão de hectares de eucaliptos plantados na Metade Sul, como é previsto, ele acredita que não seja um problema. — Seria perfeitamente suportável-, afirmou. Conforme Longhi, é um erro dizer que o plantio de eucalipto vá acabar com o Pampa. O pesquisador lembrou que o governo do Estado, através dos órgãos competentes vêm realizando um zoneamento ecológico para esses plantios. — Isso irá determinar onde poderão ser realizados e onde serão proibidos-, concluiu.
Já Káthia Vasconcellos Monteiro, coordenadora do NAT, e anfitriã do evento, reforçou o repúdio da ONG ao eucalipto. — Não podemos esquecer que além da monocultura, essas empresas vão instalar fábricas de celulose poluidoras no Estado-, afirmou.
Mas nem um eucaliptozinho?
— Nada, nenhum, somos contra-, reforça.
Outro palestrante, o holandês Winnie Overbeek, ainda encontrou tempo para lamentar a postura da Aracruz no Espírito Santo, onde a empresa teria cometido crimes contra o meio ambiente e os índios nativos. Winnie afirma que, quando comprou as terras no Espírito Santo, a Aracruz sabia sim que eram terras roubadas com requintes de crueldades dos tupiniquins e guaranis por parte de grileiros locais na década de 1970. — Hoje ela está pagando por seus graves erros do passado-, acredita.
Para o deputado Elvino Bohn Gass (PT), é preciso, antes de qualquer coisa, analisar o
que gerou a estagnação da metade sul. — Os grandes latifúndios e as monoculturas de arroz e pecuária são os principais causadores desta situação. O projeto que o Governo do Estado oferece como salvador da pátria, de monocultura de eucalipto em grandes latifúndios, não pode ser uma alternativa-, disse. O petista ressaltou também a importância da pesquisa e de cuidados que
devem ser tomados com o que ele chamou de soluções milagrosas para a
economia.
Bohn Gass lembrou casos como o do capim annoni e o da soja transgênica, que foram anunciados como soluções fáceis e agora estão gerando problemas de adequação, para dizer que a monocultura pode não ser a melhor alternativa para o desenvolvimento da Metade Sul.
Como contraponto, o petista, ouviu do secretário estadual do Desenvolvimento, Luís Roberto Ponte, que deve ser dado o benefício da dúvida ao projeto do governador Germano Rigotto de apoiar o plantio de eucaliptos. Bohn Gass finalizou sua participação declarando sua intenção de pôr em votação ainda este ano o projeto de lei que regulamenta o Código Estadual de Uso, Manejo e Conservação do Solo. —A regulamentação que
preserva o ambiente é coerente com a idéia básica da agricultura familiar-, concluiu.
A representante da prefeitura de Bagé, Estefanía Damboriarena, palestrante da tarde, deu a senha para todos: — A Metade Sul passa por um franco processo de investimentos e não há, entretanto, uma reflexão a respeito.