Especialistas discordam sobre motivos de tantos furacões
2005-10-28
Enquanto o Oceano Atlântico produz tormentas sem parar, um forte debate foi aberto entre os cientistas, sendo que uns apontam como a causa destes fenômenos o aumento das temperaturas oceânicas, enquanto outros minimizam os efeitos do aquecimento.
A pouco mais de um mês do fim da temporada de furacões no Atlântico, em 30 de novembro, foi registrada nesta quinta-feira a 23ª tormenta, Beta, quebrando todos os recordes históricos da região desde 1851, quando a supervisão teve início.
Vários obstáculos técnicos impedem que os cientistas cheguem a algumas conclusões, entre eles a falta de instrumentos adequados para medir a intensidade e o número de furacões no passado. Só há registros a partir de 1851. Mas esta é realmente a temporada mais ativa já produzida no Atlântico?
Dois estudos recentes sugerem que o aquecimento global pode estar desempenhando um papel importante no desenvolvimento e intensidade dos furacões, para alguns cada vez mais fortes.
O primeiro, realizado por cientistas do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas, em Boulder (Colorado, oeste dos EUA), e de Georgia Tech (sudeste), conclui que, durante os últimos 30 anos, os furacões de máxima intensidade - de categorias 4 e 5 na Escala Saffir-Simpson, que vai até 5 - são cada vez mais freqüentes e intensos.
Isso durante um período no qual a temperatura oceânica aumentou 0,3ºC. Além disso, essa tendência coincide com prognósticos que indicam que o aumento de concentração de CO2 (um dos gases que produzem o efeito estufa) na atmosfera poderá aumentar a freqüência dos furacões mais intensos
— O aquecimento do oceano tem sido definitivamente vinculado ao aumento das emissões de gases que criam o efeito estufa, sobretudo o CO2, que aumentou em 30% no século passado, sendo que metade desse aumento ocorreu desde 1970 - disse nesta semana Kevin Trenberth, do Centro de Pesquisas Atmosféricas.
— Podemos esperar que a intensidade de furacões siga aumentando pelo menos a curto prazo, à medida que as temperaturas da superfície do oceano aumentem - acrescentou Judith Curry, de Georgia Tech.
Aquecimento
O segundo estudo, de Kerry Emmanuel, um especialista do Instituto Tecnológico de Massachussetts (MIT), defende que os efeitos do aquecimento, natural ou artificial, podem ser sentidos na intensidade dos furacões, que são cada vez mais fortes e duram mais tempo.
No entanto, outros cientistas, entre eles os da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica americana (NOAA) e o proeminente William Gray, da Universidade do Estado de Colorado, uma autoridade no assunto, cujos prognósticos anuais sobre a temporada de furacões são muito aguardados pelos especialistas, discordam.
Gray, que fala na falsa crença de que o aumento na intensidade dos furacões deve-se ao aquecimento global, alega que há 30 anos não existiam os modernos instrumentos de medição atuais e era difícil distinguir entre furacões de diferentes categorias.
Além disso, não há provas que o aumento na freqüência ou na intensidade dos furacões esteja relacionado a aumentos de temperatura, disse Gray. Infinitas variáveis, entre elas a umidade e as correntes de vento, atuam na intensificação dos furacões, acrescentou. No entanto, Gray não descarta que o aquecimento global possa ter sua responsabilidade, mas serão necessárias muitas décadas até que se chegue a uma conclusão.
Anthony Lupo, professor de Ciências Atmosféricas da Universidade de Missouri, concorda:
— A maior parte do aquecimento vai ocorrer nas regiões polares e não nos trópicos - onde se formam os ciclones, disse. (Estado de Minas, 27/10)