Dom Cappio cobra encontro e ameaça nova greve
2005-10-28
Quase um mês após a greve de fome contra a transposição do Rio São Francisco, encerrada depois de um acordo com o governo, o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, afirmou que a administração federal não cumpriu a palavra e mantém homens do Exército e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em ações para iniciar as obras do projeto.
Durante um encontro de movimentos sociais, dom Luiz cobrou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um encontro para debater o assunto, um dos pontos do acordo, e avisou que nem o Vaticano o impedirá de fazer nova greve de fome, se for necessário.
— Já conversei com meus superiores sobre isso. Quem está disposto a morrer não tem medo de sanções - disse. — Minha consciência é um espaço sagrado.
Rodeado de índios trukás, do sertão de Pernambuco, o bispo de Barra disse que não trata do projeto com o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que afirmou que o Poder Executivo não prometeu suspender as obras.
— Não sou papagaio; confiei no presidente Lula, que fez acordo comigo por intermédio do ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner - afirmou. — Só espero que agora o governo tenha um gesto de grandeza.
Dom Luiz disse que Lula foi seqüestrado pelo capital internacional e ainda não apresentou um projeto sério e honesto para melhorar as condições de vida da maioria da população do semi-árido.
— Quero saber se ele vai mesmo cumprir o que prometeu, suspender as obras e iniciar um debate aberto com a sociedade - afirmou. — Só interrompi o jejum porque foi feito um acordo - completou. O religioso ressaltou que o projeto de transposição beneficiará uma minoria.
— O povo está sendo usado para interesses escusos de uma pequena parcela. (Correio da Bahia, 27/10)