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2005-10-28
Por Guilherme Kolling
Criada em 1995, a Fundação Iberê Camargo recebeu do Governo do Rio Grande do Sul, em 1996, a doação de um terreno na avenida Padre Cacique, em frente ao Lago Guaíba, em Porto Alegre, para construir sua sede. A idéia dos dirigentes da instituição ao projetar o prédio era se torná-lo um marco internacional.

—Este museu segue padrões de primeiríssimo mundo em todos os detalhes. É uma reverência à obra de Iberê Camargo-, classifica o presidente Jorge Gerdau. A construção é toda em concreto branco, não utiliza tijolos, tinta ou elementos de vedação. A temperatura e a umidade do interior serão gerenciadas por um controle inteligente de monitoramento para garantir a proteção do acervo.

O edifício economiza 30% a 40% de energia em relação a um convencional. Por apresentar soluções inovadoras, a obra já foi visitada por mais de 3 mil alunos de faculdades de engenharia e arquitetura. Houve também preocupação com o impacto na vizinhança, interrupção do trânsito, acessibilidade para portadores de deficiência física e com a questão ambiental.

A Fundação Gaia foi chamada para acompanhar as obras e cuidar de uma área de 16 mil metros quadrados de mata nativa, nas costas do prédio, que será transformada em parque. A idéia é unir no mesmo lugar arte, cultura e paisagem.

A entidade entrou em ação quando o ecologista José Lutzenberger ainda estava no comando. Hoje, quem a preside é a sua filha, Lara Lutzenberger. Ela e mais seis pessoas estiveram envolvidas na empreitada desde 2000. A Fundação orientou as regras ambientais para a construção, além do gerenciamento de resíduos sólidos, como entulhos.

O objetivo, causar o menor impacto possível. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul colaborou para que não fosse necessário o uso de explosivos nas escavações – foram retirados 30 mil metros cúbicos de terra. Tudo foi doado para a Secretaria Municipal de Obras e Viação para uso em pavimentação de vilas na capital.

A Fundação Gaia desenvolveu, ainda, um sistema de tratamento de esgoto para o centro cultural, com fossas, lagoas de filtragem e plantas aquáticas. A água tratada no processo será reutilizada para regar a área verde. Mas a maior tarefa é o Parque Geobotânico, um cinturão verde que vai emoldurar o museu.

No início, eram pouco mais de 7 mil m2 atrás do prédio, mas após negociação com a Secretaria do Meio Ambiente, a área adjacente, na direção Sul, foi incorporada – o parque ultrapassa a curva em frente ao Estaleiro Só.

Fica na chamada Ponta do Melo, no encontro dos bairros Santa Tereza e Cristal. É um ponto incomum da orla do Guaíba, pois se trata de uma das últimos pontas com traçado original – toda a área vizinha foi aterrada.

Também por isso, o lugar abriga remanescentes de vegetação de duas das paisagens mais características de Porto Alegre – morros graníticos e a orla do Guaíba. O encontro do morro com o lago é outro diferencial topográfico do lugar, que tem uma vista privilegiada para o rio e a cidade.

Uma das formas de educação ambiental será a identificação das diferentes paisagens e espécies do parque. Dezenas foram identificadas, entre exóticas e nativas, como figueiras, caliandras, pitangueiras, araçás, timbaúvas, paineiras e camboins. Também serão ressaltados os elementos que o compõe o local: pedra, saibro, areia e vegetação.

— Seguimos a concepção do pai (Lutzenberger) de valorizar o que já existia e trabalhar a partir dali-, explica Lara. Além de cuidar da preservação e do manejo da vegetação, a Fundação Gaia vai recuperar a biodiversidade do local e integrar o museu ao parque.

O trânsito do público será dirigido, através de trilhas ecológicas, placas e, possivelmente, guias. A área será cercada, para evitar danos a plantas mais delicadas. Também haverá paradouros, pontos de observação da paisagem, e espaços para intervenções artísticas. O parque deve ser inaugurado junto com o museu, no segundo semestre de 2006.

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